Jamil Chade

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Israel e Hezbollah ampliam ataques, e guerra vive escalada 'alarmante'

Numa intensificação do conflito no Oriente Médio, Israel e Hezbollah ampliaram ataques mútuos entre sábado (24) e domingo (25). Alegando "autodefesa", o governo de Benjamin Netanyahu usou mais de cem jatos para destruir, no Líbano, bases do grupo ligado ao Irã. Já o Hezbollah afirmou que disparou mais de 320 mísseis e drones contra as bases militares e centros do Mossad, em Israel. Segundo o grupo, a operação teria sido "concluída".

Enquanto isso, com as negociações sobre um cessar-fogo em Gaza em um impasse, as diplomacias nos EUA, de países árabes e Europa temem que a nova tensão conduza a região a uma guerra regional.

Em Washington, o presidente Joe Biden passou a acompanhar de perto os acontecimentos nas últimas horas. Mas a Casa Branca insistiu que o governo americano continua comprometido com o "direito de Israel de se defender". Fontes diplomáticas revelam que Biden foi informado por parte das autoridades israelenses de que esse ataque de prevenção seria realizado.

Na ONU, a tensão está sendo considerada como "alarmante". Em uma declaração, o Escritório do Coordenador Especial das Nações Unidas para o Líbano (Unscol) e a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) chamaram a situação de "preocupantes" e pediram a todas as partes que evitassem uma escalada maior. "À luz dos preocupantes acontecimentos na Linha Azul desde o início da manhã, a Unscol e a Unifil pedem a todos que cessem o fogo e se abstenham de novas ações de escalada", disseram.

Diplomatas na região acreditam que nem o Hezbollah e nem Israel querem um conflito armado maior na região. Mas a preocupação é de que a crise saia de controle. O governo de Egito alertou sobre os riscos de uma proliferação da violência e os riscos de um segundo front para o conflito, desta vez entre o Hezbollah e Israel.

Já o Reino Unido pediu uma desescalada para "evitar uma grande guerra regional". "Esse é o verdadeiro perigo que a região enfrenta", disse Pat McFadden, ministro do governo britânico. No Líbano, o governo manteve uma reunião de emergência e afirmou estar trabalhando para evitar uma escalada da crise.

O que ocorreu?

Durante a madrugada de sábado para domingo, as Forças de Defesa de Israel anunciaram ataques contra bases do Hezbollah no sul do Líbano. Oficialmente, o governo de Benjamin Netanyahu alegou que havia identificado o risco de um bombardeio iminente por parte do grupo apoiado pelo Irã. Os disparos de Israel teriam visado um lançador de foguetes, que estava prestes a enviar mísseis à cidade de Tel Aviv.

A ofensiva israelense, portanto, teria como objetivo neutralizar esse ataque e, para isso, cerca de 40 mísseis e ofensivas foram realizadas. "A Força de Defesa de Israel identificou a organização terrorista Hezbollah se preparando para disparar mísseis e foguetes em direção ao território israelense", disse a autoridade militar israelense. Segundo eles, "em resposta a essas ameaças", Israel está "atacando alvos terroristas no Líbano."

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Os voos a partir do aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, foram temporariamente suspensos, e o gabinete de Netanyahu manteve uma reunião de emergência na manhã deste domingo. Antes mesmo do encontro, o ministro da defesa israelense, Yoav Gallant, declarou uma situação de emergência em Israel pelas próximas 48 horas.

A prefeitura de Tel Aviv ainda anunciou o cancelamento de todas as atividades de lazer na cidade. Praias e centros culturais foram fechados. Empresas como a Air France cancelaram ainda seus voos tanto para Beirute como Tel Aviv.

Gallant disse que conversou com seu colega americano Lloyd Austin e o informou sobre o ataque no Líbano. Gallant declarou ainda estava determinado a "usar todos os meios à nossa disposição para proteger nossos cidadãos".

Mais de 320 foguetes contra Israel

Menos de uma hora depois dos primeiros ataques de Israel, o Hezbollah explicou que sua ofensiva seria uma resposta ao assassinato de seu comandante, Fuad Shukr, em Beirute, em 30 de julho.

O ataque, segundo grupo libanês, teve como alvo bases militares israelenses para "facilitar a passagem de drones" em direção aos alvos desejados nas profundezas de Israel. "E os drones passaram como planejado", disse.

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O grupo também disse que disparou mais de 320 foguetes Katyusha contra 11 bases militares e quartéis israelenses, incluindo a base de Meron e quatro locais nas Colinas de Golã ocupadas. Israel garante que interceptou a maioria dos ataques.

"Essas operações militares levarão algum tempo para serem concluídas. Depois disso, será divulgada uma declaração detalhada sobre seu processo e alvo", disse o Hezbollah em um comunicado.

"Neste momento, a Resistência Islâmica no Líbano está na mais alta prontidão e enfrentará qualquer agressão sionista, especialmente se ela atingir civis com uma punição severa", acrescentou.

Menos de uma hora depois, o Hezbollah anunciou que a primeira fase da resposta havia sido concluída e que os objetivos militares foram atingidos "com sucesso".

O governo de Israel admitiu que os ataques são uma realidade. "Ao lado das casas de civis libaneses no sul do Líbano, podemos ver que o Hezbollah está se preparando para lançar um amplo ataque contra Israel, colocando em risco os civis libaneses", indicou.

"Alertamos os civis localizados nas áreas onde o Hezbollah está operando para que saiam imediatamente do caminho do perigo para sua própria segurança. A agressão contínua do Hezbollah corre o risco de arrastar o povo do Líbano, o povo de Israel e toda a região para uma escalada mais ampla", apontou o governo de Netanyahu.

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Para os árabes, porém, o argumento de Israel é uma "manipulação". O Irã e seus aliados Hezbollah e Hamas acusam Netanyahu de não querer um acordo de paz e de ser o autor dos assassinatos dos líderes de ambos grupos, há poucas semanas.

Teerã sinalizou que essas mortes seriam vingadas. Mas não especificou como isso ocorreria. Uma das esperanças na ONU era de que essa escalada pudesse ser evitada e que um acordo de cessar-fogo pudesse ser negociado.

Mas o processo continua num impasse, depois de o Hamas acusar o governo de Israel de apresentar novas exigências para fechar um pacto.

Outros grupos indicam que também atacarão Israel

Neste domingo, os rebeldes Houthi do Iêmen, também apoiados pelo Irã, declararam seu apoio aos ataques do Hezbollah contra Israel e indicaram que também lançarão uma ofensiva.

"Parabenizamos o Hezbollah e seu secretário-geral pelo grande e corajoso ataque realizado pela resistência nesta manhã contra o inimigo israelense", disseram os houthis em um comunicado. Os rebeldes disseram que a "resposta forte e eficaz confirma que a resistência é capaz, forte e honesta em suas promessas e ameaças".

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Os houthis prometeram lançar seus próprios ataques contra Israel. "Reafirmamos mais uma vez que a resposta do Iêmen está definitivamente chegando", disse a declaração.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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