Jamil Chade

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Reportagem

Em meio a tensão, Amorim retorna à Rússia; Brics reforça tom antiamericano

O assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, viaja no final desta semana para a Rússia, num momento de tensão internacional e de confronto explícito entre potências ocidentais e alguns dos membros do Brics.

Amorim se reunirá com o chanceler Sergei Lavrov, braço direito de Vladimir Putin, na segunda-feira (9), em Moscou. Entre os vários temas da agenda que ainda está sendo definida, diplomatas acreditam que a crise na Venezuela será um dos pontos. O Kremlin reconheceu a vitória de Nicolás Maduro e vem ampliando sua influência na região, a partir de Caracas.

De Moscou, o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa vai participar de uma reunião do Brics, ao lado dos principais nomes de segurança nacional dos países do bloco, nos dias 10 e 11 de setembro.

Em reuniões do Brics com a presença do Irã e dos novos membros, diplomatas destacam que já ficou clara a existência de um diálogo sobre as principais dimensões da tensão internacional, com destaque para o Oriente Médio, a situação do mar da China e a invasão russa na Ucrânia.

Também ficou claro o elemento de geopolítica do Brics, com a hesitação da Arábia Saudita em completar sua entrada no bloco. No ano passado, Riad foi convidada a se integrar à iniciativa dos emergentes. Mas, por enquanto, não tem mandado representantes aos encontros.

A percepção interna no Brics é que os sauditas, amplamente dependentes de sua relação com os EUA, estão sofrendo forte pressão para evitar essa aproximação com China, Rússia e Irã.

Observadores também começam a notar um claro tom antiamericano em vários dos discursos e conversas internas nas reuniões do Brics, principalmente com a adesão formal do Irã.

Racha no governo brasileiro

A entrada do país dos aiatolás não era algo que o Itamaraty apoiava, e o racha interno no governo brasileiro ficou claro. Mas prevaleceu o posicionamento de Celso Amorim, que defendeu que o país fosse aceito, depois de um convite patrocinado principalmente por chineses e russos.

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O governo brasileiro, porém, quer evitar que o Brics se transforme em um bloco antagônico aos EUA e à Europa. O esforço, portanto, é para focar nos pontos em que esses países podem agir de forma coordenada, no sentido de fortalecer suas posições, inclusive em comércio, tecnologia e economia. E não necessariamente para agir contra o Ocidente.

Nova ampliação

Um intenso debate ainda será travado nos próximos dois meses sobre a ideia de uma expansão do Brics.

A liderança da Turquia já demonstrou ao governo brasileiro o interesse de que Lula apoie sua candidatura para fazer parte do bloco. Mas, mesmo em Ancara, persistem dúvidas sobre como o governo navegaria entre seus compromissos com a Otan e sua participação num bloco com alguns dos principais rivais da Europa e dos EUA.

O Brasil, depois que a Argentina rejeitou aderir ao grupo, quer garantir ainda que não haja um desequilíbrio regional e que outros aliados latino-americanos possam fazer parte. Um candidato natural, hoje, seria a Colômbia. Mas existem dúvidas sobre o que ocorreria com a participação de Bogotá sob o comando de um eventual presidente pró-Washington, como foi o caso em diversas ocasiões da história recente colombiana.

Outra iniciativa liderada principalmente por China e Rússia é criar um grupo de países associados ao Brics, mas sem adesão plena. Nesse caso, são mais de dez países que poderiam fazer parte, entre eles, Venezuela, Cuba e Nicarágua.

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A situação coloca o Brasil numa saia justa: de um lado, não reconhece a vitória de Nicolás Maduro na recente eleição venezuelana. De outro, terá de tomar uma decisão de siga os demais países do Brics que querem Caracas no grupo de membros associados.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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