Seca e queimadas no Brasil levam Lula a recalibrar fala de abertura na ONU
A seca inédita no Brasil e o avanço de queimadas no país estão levando o governo brasileiro a recalibrar o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ONU, a partir da próxima semana. A questão climática, que já seria um dos pontos centrais de sua mensagem, deve ganhar ainda mais peso quando o brasileiro abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira (24).
O discurso começou a ser desenhado ainda no mês passado. Mas foi apenas há uma semana que os rascunhos que tinham sido preparados no Itamaraty chegaram à Presidência. Ali, uma decisão política será tomada sobre os pontos que entram e os que são retirados.
Se em 2023 a fala de Lula se concentrou na questão da desigualdade, a intenção desta vez era insistir sobre a necessidade de que haja uma reforma completa dos organismos internacionais, inclusive com uma proposta de uma emenda à Carta das Nações Unidas, de 1945, e uma ampliação do Conselho de Segurança até 2030.
Nas versões iniciais do texto, a questão climática já seria amplamente mencionada como um dos pilares da mensagem. Mas, desde que as queimadas ganharam dimensões nacionais, assessores do Palácio do Planalto passaram a julgar a necessidade de que a questão ganhasse um peso ainda maior. Inclusive para não soar como um discurso desconectado da realidade.
O formato final do texto não está estabelecido e deve ser fechado apenas no fim de semana. Mas algumas indicações em Nova York apontam que a tendência deve ser a de dar uma centralidade à questão ambiental.
Nesta quinta-feira, a primeira-dama Janja Lula da Silva chegou à sede da ONU antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e colocou justamente a questão do clima no centro.
A primeira-dama no primeiro dia da reunião do Pacto Global - Rede Brasil, na sede da ONU em Nova York. Ela alertou que "as enchentes, as secas prolongadas e os incêndios estão cada vez mais frequentes e intensos em todas as regiões do mundo". "E a resposta global às mudanças climáticas não tem sido rápida o suficiente para diminuir seu impacto sobre nossas vidas e futuros", disse Janja.
"Como se não bastasse o desafio premente de nos prepararmos e nos adaptarmos para esses eventos extremos enquanto eles se aceleram, ainda precisamos lidar com ações e interesses criminosos de terroristas climáticos, como bem disse a ministra Marina Silva", afirmou a primeira-dama.
Horas antes, foi a vez do embaixador do Brasil na ONU, Sergio Danese, dar um recado semelhante.
"As tragédias das enchentes no Rio Grande do Sul e, mais recentemente, das queimadas em boa parte do território nacional alertam para a necessidade de intensificar nossas ações de mitigação e prevenção à mudança do clima, de proteção ambiental e de ampliação de políticas de desenvolvimento sustentável, em particular o combate à pobreza e à desigualdade", disse, em evento na ONU.
Diferentes discursos vão compor mensagem do Brasil
Lula, porém, não fará apenas um discurso em Nova York, e o governo considera que para entender de forma completa sua mensagem será necessário levar em conta todas suas principais falas.
A primeira delas ocorre no domingo, na Cúpula do Futuro, também na ONU. Ali, a mensagem será a de que uma reforma do Conselho de Segurança até 2030 deve ser um objetivo. Ele também deve insistir na abertura dos organismos financeiros para também atender aos interesses dos emergentes.
Outro momento importante na construção da narrativa de Lula será o encontro com cerca de 20 governos, também no dia 24. O grupo vai dar uma mensagem de apoio à democracia e de combate aos extremismos políticos.
Lula, ao contrário de anos anteriores, não ficará hospedado em um hotel de Nova York. Ele e a primeira-dama irão se hospedar na casa do embaixador do Brasil na ONU. Ministros e assessores, porém, serão distribuídos por hotéis pela cidade.
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