Jamil Chade

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Reportagem

EUA questionam plano de paz de Brasil e China para Ucrânia

O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, questionou a proposta de Brasil e China para criar um caminho negociador para encerrar a guerra entre Ucrânia e Russia. Numa coletiva de imprensa em Nova York, nesta sexta-feira, ele insistiu que apenas planos que façam referência à Carta das Nações Unidas podem ser considerados e apontou que não há como pensar em recompensar os russos pela invasão do território ucraniano.

Nesta sexta-feira, Brasil e China criaram oficialmente um grupo de 15 países emergentes para trabalhar pela paz entre Ucrânia e Rússia, ainda que não haja qualquer sinal por parte de Kiev e Moscou de que exista uma intenção de negociar um acordo neste momento. Horas depois do anúncio, o chanceler Mauro Vieira esteve com o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov. O UOL confirmou que o plano brasileiro e chinês foi mencionado no encontro.

A declaração final do novo grupo de "amigos da paz" traz uma referência à Carta das Nações Unidas, como cobravam os americanos e europeus. Mas faz ponderações.

"Pedimos que sejam mantidos os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, respeitando a soberania e a integridade territorial dos Estados", diz o documento, assinado por México, Argélia, Indonésia, Egito, África do Sul e outros.

Mas o texto é completado com um aspecto que preocupa os americanos e ucranianos. O documento cita a necessidade de "respeitar as preocupações legítimas de segurança dos Estados e levando em consideração a necessidade de manter os princípios de paz, segurança e prosperidade".

Para a Casa Branca, a redação sinaliza que qualquer acordo precisa levar em consideração as "preocupações legítimas" do Kremlin diante do que é visto pelos russos como uma ameaça da expansão da Otan.

Segundo Blinken, apenas existe espaço para considerar planos que assegurem a integridade territorial dos ucranianos, soberania e independência. "Esses são os princípios da Carta da ONU", disse.

O americano apontou que já apresentou o que acredita ser o caminho para uma negociação e rejeitou qualquer opção que preveja alguma recompensa ao presidente Vladimir Putin pela invasão, há mais de dois anos.

"Um paz em que o agressor leva tudo que queria e vítima não tenha direitos não é uma receita de paz", disse. Segundo ele, qualquer proposta será julgada pelos americano nessa base.

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Blinken também revelou que esteve com o chanceler chinês Wang Yi e criticou o apoio militar de Pequim aos russos. "O que acontece na relação entre China e Rússia é problema deles. Mas o fornecimento de armas é problema para todos", alertou.

Brasil se reúne com Lavrov

Menos de cinco horas depois do anúncio do grupo da paz, o chanceler Mauro Vieira se reuniu em Nova York com o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov. No encontro, o plano foi alvo de uma troca de impressões.

Dias antes do encontro com o russo, porém, ministro brasileiro esteve com o chefe da diplomacia ucraniana. O encontro foi um dos primeiros da agenda de Mauro Vieira na Assembleia Geral da ONU, nesta semana.

A base do projeto do grupo de emergentes é o acordo assinado entre China e Brasil em maio e que estabelece seis princípios para lidar com a guerra, a não expansão do campo do conflito, a recusa do uso de armas nucleares e a convocação de uma conferência de paz com russos e ucranianos.

Celso Amorim, assessor especial da presidência, apontou como a reunião desta sexta-feira é a realização do projeto inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de ter um "grupo de amigos da paz". "Levou tempo. Leva tempo para que as pessoas entendam que outros caminhos não conduzem à paz. Mas conseguimos", disse. Lula vinha propondo a iniciativa desde que venceu a eleição, em 2022.

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"Somos um grupo de amigos da paz. Nem amigos da Rússia e nem da Ucrânia", insistiu o assessor de Lula e artífice do projeto pelo lado brasileiro.

O governo brasileiro destacou, no começo do encontro, que todos os planos apresentados até agora estavam esgotados. "A posição do Brasil em relação ao conflito na Ucrânia tem sido clara e firme desde o início", disse o chanceler Mauro Vieira. Segundo ele, Lula "condenou abertamente a guerra na Ucrânia, afirmando que o mundo não pode se permitir conflitos militares".

Ele disse que o Brasil defende a integridade territorial, mas insiste que o diálogo é "o único caminho sustentável para a paz".

Já Amorim também sugeriu que nem todos levarão o que desejam de um acordo, insinuando que concessões terão de ser feitas. Para ele, uma paz pode ser alcançada. "Não necessariamente a paz ideal, mas uma paz possível", disse.

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