Jamil Chade

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Em evento marcado por racismo, Trump promete pena de morte a estrangeiros

No ato que marcou o começo da reta final da campanha eleitoral nos EUA, Donald Trump lotou o Madison Square Garden, em Nova York, deixando claro que está disposto a desafiar os redutos democratas. O evento, porém, foi marcado por declarações racistas, mentiras, obscenidade e insultos.

Neste domingo, depois de quatro horas de discursos, Trump subiu ao palanque da principal arena em uma cidade que por 40 anos sempre elegeu um democrata. Mas usou o palco para ampliar os ataques contra estrangeiros e prometeu a pena de morte a qualquer imigrante que mate um americano.

Horas antes, seus aliados tinham preparado o terreno para Trump com ataques contra imigrantes e piadas racistas. Uma delas causou constrangimento, quando o comediante e apoiador do republicano, Tony Hinchcliffe, comparou Porto Rico a uma "ilha de lixo". Kamala Harris, candidata democrata, havia recentemente sido endossada por nomes populares na ilha. Ao longo da tarde, foram vários os discursos que colocaram os estrangeiros como a maior ameaça aos EUA.

As piadas passaram a ser vulgares quando o mesmo humorista arrancou gargalhadas do público ao comentar que os latinos "adoram fazer bebês". "Não há como sair. Eles chegam la dentro, assim como fazem em nosso país", disse Hinchcliffe, numa referência indireta ao orgasmo masculino.

As "piadas" foram rebatidas por políticos até mesmo do campo do republicano e passaram a dominar a presença de Trump em Nova York. A deputada do próprio Partido Republicano, María Salazar, escreveu no X que estava "enojada" com sua retórica "racista" que "não reflete os valores do Partido Republicano". O senador Rick Scott denunciou a "piada" como "sem graça" e "não verdadeira".

David Urban, estrategista republicano e aliado de Trump, reconheceu que as piadas ofenderam "nossos amigos de Porto Rico". E completou dizendo que Trump ama Porto Rico. Imigrantes dessa região, com direito ao voto nos EUA, pode ser cruciais em alguns estados em disputa como a Pensilvânia.

Danielle Alvarez, assessora da campanha de Trump, foi obrigada a emitir um comunicado dizendo que a "piada de Hinchcliffe não reflete a opinião do Presidente Trump ou da campanha".

Mas os insultos continuaram. Tucker Carlson, apresentador e apoiador da extrema direita, ainda ironizou a origem de Kamala Harris, indicando que ela seria a "primeira samoana, malaia, ex-promotora de baixo QI da Califórnia a ser eleita presidente".

Horas depois, o republicano David Rem chamou a democrata de "o demônio".

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Coube ainda ao apresentador de rádio Sid Rosenberg xingar no palanque Hillary Clinton de "filha da puta doentia".

Quando Trump chegou, o clima era de ovação. "É ótimo estar de volta na cidade que amo. Que bom é ver tantos patriotas", disse o candidato para uma plateia hipnotizada.

Pena de morte a estrangeiros

Trump usou ainda a imigração para mobilizar apoio, acusando sem provas a democrata Kamala Harris de ter "importado" prisioneiros do Congo e Venezuela.

"Somos um país ocupado. Mas não seremos mais", disse, numa tática que vem repetindo ao longo de meses de identificar a crise americana como um efeito de agentes estrangeiros. "No primeiro dia de governo, lançaremos o maior programa de deportação", afirmou.

Trump ainda indicou que vai usar uma lei de 1798 para expulsar os estrangeiros. "Não temos mais o mesmo país. O maior pesadelo é o que fizeram com nossas fronteiras", disse.

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Em um dos momentos mais aplaudidos pelo público, Trump anunciou que vai adotar uma lei que permitirá adotar a pena de morte a qualquer estrangeiro que matar um americano.

Mentindo sobre o atual governo, ele garantiu que Biden e Kamala Harris desviaram recursos que deveriam ter ido aos afetados pelos furacões para atender imigrantes.

O candidato também insistiu sobre a existência de gangues "selvagens" da Venezuela, que estariam atuando até mesmo nas áreas mais turísticas de Nova York, como Times Square.

Corte de impostos, mas só para carros feitos nos EUA

No discurso, Trump prometeu "a volta do sonho americano" e um país mais rico. Mas colocou os 20 mil apoiadores que estavam na arena contra a imprensa, que cobria o evento.

"Essa é uma eleição para escolher se queremos continuar como estamos ou os quatro melhores anos de nossa economia", disse. Listando promessas de liderar o mundo em dezenas de setores e prometendo cortar impostos em áreas que afetam as classes mais pobres, ele arrancou aplausos ao dizer que "será a nova idade ouro dos EUA".

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Trump também insistiu em sua política de proteger a indústria local, defendendo o corte de tarifas. Mas apenas para aqueles que fabricam carros no país. "Teremos tarifas altas para os demais", disse, num sinal de que vai restabelecer a guerra comercial que conduziu em seu mandato, a partir de 2016.

Madison Square Garden, em Nova York, sedia evento de campanha de Donald Trump
Madison Square Garden, em Nova York, sedia evento de campanha de Donald Trump Imagem: Jamil Chade/UOL

O candidato republicano anunciou a criação de uma lei de reciprocidade, prometendo taxas de 100% a 200% contra produtos de países que apliquem tarifas contra os EUA. "Não vamos pedir desculpas por nos proteger", afirmou Trump, numa clara indicação de um retorno às práticas protecionistas.

Elon Musk fala em comício de Donald Trump no Madison Square Garden, em Nova York
Elon Musk fala em comício de Donald Trump no Madison Square Garden, em Nova York Imagem: Jamil Chade, UOL

Elon Musk, instantes antes de Trump falar, subiu ao palco para pedir que eleitores levem suas famílias para votar. "Vamos votar. Levem os amigos. Todos", disse.

Trump, que levou ao palanque várias pessoas de sua família, também contou com um discurso de Melania Trump, que raramente tem participado da campanha. Foi um discurso burocrático, porém, uma tentativa de enterrar a ideia de que haveria uma ruptura no clã Trump.

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Os inimigos de dentro

Além dos estrangeiros, Trump voltou a atacar o que ele chama de "os inimigos de dentro". Segundo ele, esse seria um movimento "de esquerda" que atuaria nos bastidores do poder e contra os conservadores.

"Biden e Kamala não são nada. Muito maior que eles, é essa realidade que temos de lidar", afirmou, sem jamais ter explicado a quem se refere.

Nas últimas semanas, ele chegou a dizer que prenderia esses "inimigos de dentro", deixando observadores de direitos humanos assustados sobre o que estaria por trás das declarações.

Trump alerta sobre 3ª Guerra Mundial

O candidato republicano também passou a insistir na ideia de ser um "pacifista" e que, se vencer, irá "terminar todas as guerras".

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Trump criticou o governo de Biden por não ser respeitado no exterior, levando Vladimir Putin a pensar que o país seria "apenas um tigre de papel".

"Kamala pode nos levar à 3ª Guerra Mundial. Vocês poderão receber uma carta recrutando seus filhos para uma guerra em um país que vocês sequer sabem onde fica", disse.

Apesar de dizer que é um pacifista, ele fez questão de destacar que, se tiver de entrar em guerra com a China, "sem dúvida venceríamos".

Incoerente, ele insistiu que, apesar de ser duro com os países estrangeiros, "se dá bem com todos os líderes, inclusive com Putin". "Eu vou evitar a 3ª Guerra Mundial", disse o candidato.

Prisão para quem queimar bandeira americana

Em um discurso repleto de referências patrióticas, Trump ainda anunciou que, se vencer, vai propor uma lei que estabeleça um ano de prisão para quem queimar a bandeira americana. Para ele, tais atos são conduzidos pela "extrema esquerda".

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Trump, que havia sido acusado por democratas por repetir o ato de nazistas em 1939 ao realizar um comício no Madison Square Garden, garantiu que a eleição irá "salvar a nação" e que "o país será devolvido aos americanos".

Em 1939, essa foi exatamente a mesma frase usada pelos organizadores do evento para justificar o ato.

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