Euforia, vingança e apologia às armas: a festa trumpista na madrugada de NY
A vitória de Donald Trump levou uma multidão de apoiadores republicanos ao delírio, durante a madrugada de Nova York.
O UOL passou as longas horas de apuração das eleições americanas com o principal grupo de apoiadores de Donald Trump na cidade controlada por democratas. Conforme os primeiros votos eram contabilizados e os estados republicanos divulgavam seus resultados, os gritos de comemoração ganhavam força e confiança.
Eram quase 2h da madrugada quando a constatação da possibilidade de uma vitória fez o local explodir numa festa regada a gritos de ordem, ofensas aos democratas, apologia das armas e ataques a "comunistas e socialistas". "Senhoras e senhores, somos os vencedores. Preparem-se", anunciava um dos organizadores.
Regada a ofensas e transmissão da Fox News
Por US$ 90, os convidados tinham direito a salgadinhos com qualidade duvidosa, telões com os resultados, transmissão da Fox News, ofensas a gays e acusação de que o Brasil é controlado por comunistas.
Na entrada, cada membro do partido republicano recebia uma nota de US$ 100 com o rosto de Trump com seu polegar indicando que a vitória era certa. Aquele era o vale para que qualquer bebida fosse solicitada, inclusive uma "MAGA Rita", um jogo de palavras entre margarita e Maga, sigla para Make America Great Again (faça a América grande de novo).
Nas camisas dos presentes, estavam estampadas ofensas sobre a idade de Joe Biden, imagens obscenas de Kamala Harris e a foto de Trump se levantando após ser baleado.
A noite com lideranças locais do partido republicano e personalidades do mundo ultraconservador começou num misto de êxtase e desinformação.
Vestido com símbolos da extrema direita americana e referências ao direito de portar armas, um dos financiadores do partido republicano, Anthony Fratiaini, apontou logo de início que seu maior temor era a "fraude" que já estava supostamente aparecendo.
"Diferentemente de 2020, desta vez vamos estar de olho e vamos agir", disse. Segundo ele, se houvesse uma fraude, Trump tinha "obrigação de lutar contra o resultado". "Além disso, temos gente poderosa do nosso lado, como Elon Musk", disse.
Qualquer notícia positiva para Kamala Harris era vaiada. Com uma gravata borboleta e um crucifixo, um dos organizadores da noite, Michael Bovasso, explicava que a eleição de Trump iria evitar a 3ª Guerra Mundial. "Eu temo pelo mundo se Harris for eleita", disse.
Shawn, vestido de gari e com alimentos do McDonalds na mão, estava fantasiado de Trump. Em sua orelha, um curativo, como o que o candidato colocou quando foi baleado.
No local, poucos negros estavam presentes e a proporção era de três homens por cada mulher. Numa roda de conversa, um dos apoiadores sentenciou: "Se Trump vencer, pelo menos não teremos mais embaixadores gays percorrendo o mundo".
Também teve pergunta provocativa sobre Lula
No salão, não faltavam imagens em tamanho natural de Trump para que as pessoas pudessem fazer fotos ao seu lado, uma bandeira americana feita de tampinhas de cerveja e homens com chapéus de cowboys.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberAo entender que a reportagem era do Brasil, um apresentador de um podcast que estava transmitindo ao vivo do local lançou a pergunta: "Vocês têm um comunista no poder, como fazem?". Não demorou para que circulasse a informação da presença de um jornalista brasileiro no local, que também recebia um representante da imprensa de Viktor Orbán, da Hungria. Um influenciador logo queria saber se a reportagem conhecia o bolsonarista Allan dos Santos.
O sentimento de vitória ganhou um novo impulso quando os telões mostraram os apoiadores de Kamala Harris abandonando a concentração onde estavam, em Washington DC. Quando um dos porta-vozes da campanha da democrata, afroamericano, subiu ao palco para anunciar que ela não tomaria a palavra durante a madrugada, um dos apoiadores de Trump na festa gritou: "Você parece um escravo".
Quando já era seguro o suficiente para iniciar as comemorações, a euforia começou a se transformar num sentimento de vingança e frases de alertas. "Cuidado: estamos voltando", gritava um deles.
Sob os brados de "USA, USA, USA", os apoiadores se abraçavam como se tivessem recuperando o controle da história.
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