Onda de calor (global) é refresco para Haddad
Os títulos sustentáveis lançados pelo Brasil venderam mais que ar-condicionado esta semana. Foram US$ 2 bilhões em papéis do Tesouro Nacional comprados pelo mercado internacional antes que um negacionista aprendesse a falar "aquecimento global". A demanda foi tanta que se o governo tivesse lançado o triplo, teria vendido tudo. Não são títulos quaisquer, porém.
E daí? Pelo menos metade desse dinheiro terá que ser usada em projetos ambientais. Serão entre R$ 1 bi e US$ 1,2 bilhão para monitoramento da emissão de gases do efeito estufa, geração de energia renovável ou restauração de ecossistemas, por exemplo. Na prática, além de sair relativamente barato, é um dinheiro que precisa ser bem gasto. Barato?
Sim, a taxa de juros oferecida pelo Brasil e aceita pelo mercado foi de 6,5% ao ano.
A diferença entre o que o governo brasileiro se comprometeu a pagar em comparação ao que o governo dos Estados Unidos paga ficou em 182 pontos-base.
Como disse o ministro Fernando Haddad aos jornalistas, é um spread (diferença) de país com grau de investimento - coisa que o Brasil perdeu em 2016 e briga para recuperar.
Por que, então, o mercado comprou esses títulos a uma taxa mais baixa do que o status do Brasil junto às agências de avaliação de risco demandaria?
Três motivos principais:
Investidores institucionais são obrigados a alocar uma parte de seus ativos em projetos "sustentáveis", que sejam usados para combater mudanças climáticas, por exemplo;
O Brasil talvez seja o país com melhores condições para atender essa demanda reprimida do mercado global por causa das oportunidades de investimento na Amazônia e em energia renovável;
O governo conseguiu encaminhar reformas importantes para equilibrar as contas públicas e restaurar sua credibilidade.
Em resumo, o governo mostrou estar atento à demanda não apenas da Faria Lima, mas de Wall Street. Captou dinheiro mais barato e carimbado para projetos ambiental e socialmente relevantes.
E o que a onda de calor tem a ver com o sucesso da venda de títulos sustentáveis?
A explosão dos termômetros em boa parte do Brasil, provavelmente nada. Mas o fato de 2023 entrar para história como o ano mais quente já registrado tem tudo a ver. A pressão para os investidores internacionais melhorarem sua imagem financiando projetos ambientalmente responsáveis nunca foi tão grande - e só tende a aumentar junto com a temperatura do planeta.
A onda de calor esquentou a cadeira para uns, mas refrescou a vida de quem soube aproveitar a chance. Haddad que o diga.
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