SP tem orçamento para enterrar fiação, mas falta prioridade, diz urbanista
A discussão sobre enterrar os fios da rede elétrica de São Paulo, retomada após as milhares de pessoas afetadas pelas chuvas na capital paulista, não é difícil pelo alto custo da mudança —mas sim pela falta de prioridade dada ao tema, avaliou o urbanista e vereador eleito pelo PT Nabil Bonduki durante o Análise da Notícia de terça-feira (15).
Para Bonduki, professor de Urbanismo da USP, o fato de a Prefeitura de São Paulo estar com uma capacidade de investimento recorde e ainda não colocar planos em prática demonstra que não há interesse em construir aos poucos a infraestrutura urbana da cidade:
Nosso orçamento do ano que vem vai ser R$ 120 bilhões. Se pensar que a Prefeitura poderia dispor 4% desse orçamento para essa finalidade, vai dar R$ 5 bilhões por ano. Não é um valor baixo, e há a possibilidade de mais financiamento. Com R$ 5 bilhões, dá para enterrar uns 500, 600 quilômetros. Nós podemos ter uma contribuição de outros níveis de governo também, a contribuição da própria empresa concessionária [para] repartir esse custo.
É óbvio que dá, do ponto de vista técnico e urbanístico. Aliás, não só dá como é muito recomendável que seja feito. Nós temos vários exemplos de cidades do mundo que toda a fiação é enterrada. Nós temos uma legislação em São Paulo, inclusive, que determina que todos os novos loteamentos tenham fiação enterrada. É uma questão de prioridade e de gestão urbana.
Nabil Bonduki
Não seria a primeira vez que São Paulo passaria por obras do tipo: Bonduki relembrou casos em que a fiação precisou ser enterrada, como na época da elaboração do corredor de ônibus da Avenida Rebouças, na gestão Marta Suplicy, e em obras de modernização da Avenida Paulista.
Com a crise climática tornando cada vez mais comuns eventos extremos, incluindo as chuvas e as ondas de calor, o período do verão traz mais incertezas sobre a capacidade de São Paulo manter-se com luz mesmo após tempestades. Com isso, a Prefeitura deveria aproveitar a capacidade de investimentos para se planejar para o futuro, e não apenas "para o próximo verão", disse o urbanista.
As áreas que são arborizadas são as melhores do ponto de vista do equilíbrio climático, mas são as mais arriscadas a ter árvores caindo sobre os fios da cidade. E essas são as áreas mais privilegiadas. Na periferia, não tem arborização. E por isso que também a repercussão é muito grande, infelizmente. Quando um desastre acontece na periferia, pouca gente fica tão mobilizada como quando acontece na Lapa, em Pinheiros, no Morumbi, etc. Então, tem também esse fator da desigualdade sócio-territorial, tudo isso precisa ser pensado de frente. É um bom momento para aproveitar.
Nabil Bonduki
O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.
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Veja abaixo o programa na íntegra:
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