Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Castro arrasta gestão Lula para fogueira da 'segurança' no Rio

Para cada problema complexo há sempre uma solução rápida, simples e errada. Sob o impacto do terror que a milícia impôs ao Rio de Janeiro ao queimar 35 ônibus, alguns carros e até um trem em reação à morte de um criminoso pela Polícia Civil, o ministro Flávio Dino (Justiça) anunciou que "vai aumentar mais ainda as equipes federais" deslocadas para o estado. Nos bastidores, discute-se até o uso pontual das Forças Armadas.

Na crônica da segurança púbica do Rio de Janeiro, o fundo do poço é apenas mais uma etapa rumo às profundezas. O poder político no estado é emprestado. E pode retornar à bandidagem, seu legítimo dono, a qualquer momento. A fogueira da milícia carioca mostrou que Cláudio Castro convive com o pior tipo de ilusão que pode acometer um governante: a ilusão de que governa. Aos pouquinhos, o governador arrasta a gestão Lula para a fogueira.

Impotente, Castro simulou poder: "O crime organizado que não ouse desafiar o estado". Foi como se uma caricatura política, tendo fracassado na função de governador, tentasse a sorte como comediante. Castro estreou no poder fluminense como vice de Wilson Witzel, um ex-juiz que se elegeu governador surfando a onda Bolsonaro e prometendo mirar na "cabecinha" dos bandidos. Caiu por corrupção.

Herdeiro da política do tiro "na cabecinha", Castro ecoa o discurso da lei e da ordem do bolsonarismo. Quando era um deputado inexpressivo, Bolsonaro homenageava milicianos. Tinha ao seu redor o ex-sargento Fabrício Queiroz e o ex-capitão Adriano da Nóbrega, que mantinha a mãe e a ex-mulher na folha da rachadinha de Flavio Bolsonaro.

Em 2018, Bolsonaro disse que "as milícias tinham plena aceitação popular, mas depois acabaram se desvirtuando. Passaram a cobrar gatonet e gás". A exemplo de Bolsonaro, o submundo da política fluminense considerava aceitável que milicianos cobrassem uns caraminguás de comerciantes para executar pivetes e representantes da arraia-miúda do tráfico.

Os traficantes sobreviveram. Hoje, alguns viram sócios da milícia, um crime que recruta mão de obra dentro da polícia. Formou-se no Rio uma coalizão das trevas que se reproduz em outros estados. Nesse contexto, reforçar os efetivos federais e da força nacional no Rio de Janeiro é como oferecer sapatos a um governador que já perdeu os pés.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes