Josias de Souza

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Opinião

Na guilhotina, Moro estreita a inimizade com Gilmar Mendes

Quando abandonou 22 anos de magistratura para virar ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro parecia acreditar que a política era coisa muito séria para ser deixada para os políticos. Hoje, com o mandato de senador a prêmio, Moro tornou-se um típico político brasileiro —grosso modo falando.

Costuma-se dizer que política é a arte de engolir sapos. Com a garganta na guilhotina, Moro deglute elefantes. Reuniu-se com o desafeto Gilmar Mendes. Aquele desejo incontido de salvar a humanidade da corrupção foi substituído pela ânsia de livrar a si mesmo da acusação de mau uso de verbas públicas na eleição.

Todos sabem o que Moro e Gilmar pensam um do outro. No ano passado, o ex-juiz da Lava Jato foi filmado numa festa junina falando em "comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes". O decano do Supremo reagiu: "Quem tem que fazer explicações sobre venda de decisões é o Moro".

Muitos podem achar alvissareiro que o ex-juiz acusado de impulsionar a antipolítica tente estreitar sua inimizade com a toga mais política do Supremo. Mas o excesso de cinismo reforça em parte da plateia a percepção de que a política é mesmo o território da farsa.

No século 19, certas diferenças só podiam ser lavadas num duelo, com sangue. Hoje, mesmo no meio da mais degradante desonra, há quem consiga avistar sempre uma saída honrosa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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