Lula busca culpados pelo fiasco em toda parte, menos no espelho
Criou-se no Planalto um clima de caça aos culpados pelo fiasco do 1º de Maio. Lula inaugurou as buscas quando ainda estava em cima do palanque do ato que deveria ter sido a celebração do Dia do Trabalhador. "Não pense que vai ficar assim", disse, em timbre ameaçador, dirigindo-se ao ministro palaciano Márcio Macêdo, responsável pela interlocução do governo com os movimentos sociais.
No dia seguinte, foram à alça de mira o ministro Luiz Marinho (Trabalho), que não zelou para que as centrais sindicais providenciassem o público, e Alexandre Padilha (Coordenação Política), que não mobilizou adequadamente a bancada petista e seus satélites. Sobrou tiro até para Marco Aurélio Ribeiro, o Marcola, que organiza a agenda de Lula, que se absteve de farejar o fracasso.
Se o nome do problema fosse Macêdo, Marinho, Padilha ou Marcola a solução seria simples. Bastariam alguns golpes de esferográfica e o envio das exonerações ao Diário Oficial. A questão é que o responsável pela desconexão do Planalto com a realidade é o dono da caneta. O mundo do trabalho foi virado do avesso, o imposto sindical acabou, a militância petista envelheceu, e a direita se bolsonarizou. Quase tudo mudou, exceto Lula.
Levantamento feito pelo "Monitor do Debate Político", grupo da USP, estimou que compareceram ao ato do 1º de Maio cerca de 1.635 pessoas. As cheias gaúchas ofereciam um álibi ao protagonista. Lula poderia ter antecipado sua viagem ao Rio Grande do Sul. Preferiu encarar o fiasco.
A caça aos culpados seria interrompida se Lula concedesse uma audiência ao seu espelho. O encontro com o espelho pode ser uma experiência cruel. A imagem refletida é de uma franqueza inescapável. Revela, sem atenuantes, todas as ofensas do tempo. Rugas, cabelos brancos, calva, flacidez política. Se a conversa for franca, a imagem de Lula refletida no espelho dirá a Lula que ele já não é o mesmo.
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