Contestado internacionalmente, Maduro liga o botão de dane-se
A Venezuela convive há décadas com a tese segundo a qual as únicas opções para que as coisas melhorem são os ditadores ou os loucos. Por um descuido da providência divina, Nicolás Maduro demonstrou em menos de 24 horas que acumula as duas condições.
No domingo, acusado de fraude pela oposição, Maduro celebrou sua hipotética reeleição após uma suposta contagem de 80% dos votos. Nesta segunda-feira, com a velocidade de um raio, o personagem deixou-se coroar pelo órgão eleitoral da Venezuela como presidente reeletio. O duvidoso foi tratado como "irreversível".Maduro deu de ombros para o questionamento dos diversos países que condicionaram o reconhecimento do resultado das urnas a uma contagem detalhada dos votos, com a exibição dos relatórios das seções eleitorais. O Brasil informou que aguarda a divulgação dos documentos.
Em vez de acender a luz, Maduro acenou com um recrudescimento do apagão democrático. Acusou a oposição de tramar um "golpe de Estado". Insinua que seus adversários, entre eles a líder oposicionista María Coirina, estariam por trás de um alegado ataque hacker que teria impossibilitado a divulgação de todas as atas de votação. Expulsou os embaixadores de sete países latino-americanos.
Estão em cena todos os ingredientes tradionalmente usados por Maduro para perseguir rivais e erguer as teorias conspiratórias que escoram as suas fraudes. A diferença é que, dessa vez, o pavio da sociedade venezuelana está mais curto.
Num prenúncio do que está por vir, soaram em Caracas os primeiros buzinaços e panelaços. De tão incrível, a alegada vitória de Maduro é mesmo inacreditável. Para admitir que o improvável fosse real, seria necessário supor que o eleitorado reelegeu a ruína. Alheio à deterioração que o rodeia, Maduro ligou o botão de dane-se.
Deixe seu comentário