Janja meteu-se numa 'saia justa' com Marina na Foz do Amazonas
Em entrevista à CNN, a primeira-dama Janja defendeu a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, na costa do Amapá, parte da chamada Margem Equatorial. Declarou que a Petrobras é "uma empresa de ponta no desenvolvimento de tecnologias". Por isso, disse ela, "temos total capacidade para explorar sem prejudicar o meio ambiente".
Janja meteu-se numa "saia justa" com Marina Silva, chefe do Ministério do Meio Ambiente. Há duas semanas, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, subordinado de Marina, requisitou esclarecimentos adicionais à Petrobras. Parecer subscrito por 26 técnicos concluiu que as explicações da estatal não foram suficientes para a liberação de uma licença ambiental.
O calendário potencializa o contrangimento. Janja falou às margens do G20, no Rio de Janeiro. Negocia-se no momento o texto final da declaração conjunta que Lula espera assinar na semana que vem com os outros chefes de Estado que integram o grupo. No capítulo ambiental, a peça mencionará a transição energética, vinculando comércio internacional e desenvolvimento sustentável.
Marina recebeu a canelada companheira à distância. Representa o Brasil na COP29. Nesta quarta feira, enquanto Janja defendia a extração de óleo na Foz do Amazonas, a ministra criticava declaração do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, anfitrião da conferência climática da ONU. Ele disse que petróleo é "um presente de Deus", que precisa ser oferecido ao mercado, porque "o mercado precisa dele."
Evangélica, Marina disse que Deus "sempre pede que sejamos bastante comedidos em relação aos presentes que Ele nos dá." Comparou óleo com açúcar. "Se comermos demais, com certeza ficaremos diabéticos." A julgar pelas palavras de Janja, Lula, a exemplo do colega do Azerbaijão, não cogita renunciar ao doce apelo econômico da exploração petrolífera. Mesmo que sua ministra considere a ambição incompatível com a retórica climática do Brasil.