Mulheres à frente de "tribunais" seriam mutação num PCC hipermasculino
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Se em Alagoas o PCC (Primeiro Comando da Capital) tem ao menos 18 mulheres com poder de liderança, conforme foi divulgado pelas forças de segurança locais, no estado de São Paulo a situação é bem diferente, pois a cúpula da facção criminosa sempre foi predominantemente masculina.
Aliás, essa é a primeira vez que se tem notícia sobre a existência de mulheres no topo da facção, como foi anunciado nesta terça-feira pela Polícia Civil alagoana, durante megaoperação. A informação surpreendeu autoridades policiais paulistas, que há quase três décadas investigam as ações da organização criminosa.
A cúpula do PCC no estado de São Paulo sempre aceitou mulheres em seus quadros, mas nunca deixou de manter uma espécie de "estrutura machista", pelo menos em termos de liderança.
A supremacia masculina sempre prevaleceu na facção e, segundo seus líderes, ela foi acordada em 2002, quando as mulheres de dois fundadores do grupo passaram a agir à revelia dos maridos, dando ordens para assassinatos, atentados e ataques.
Houve uma guerra interna sem precedentes na história da facção, com dezenas de mortes nas ruas e nos presídios. Segundo o Ministério Público Estadual, durante esse conflito Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, assumiu a liderança máxima da organização.
As principais células da facção, conhecidas como "sintonias", mantêm somente homens na liderança. Jamais houve a presença de mulheres, por exemplo, na "sintonia final geral", formada pelos chefões da organização.
As "sintonias"
Todas as outras 12 "sintonias", como as que cuidam do progresso (tráfico de drogas); paiol (armas); pé de borracha (veículos); gravatas (braço jurídico); cebola (contribuição mensal dos associados) têm apenas homens no comando.
O PCC conta com um disciplina (chefe) em cada bairro ou região do estado. O cargo é exercido por liderança masculina. A mesma situação é verificada no quadro do "tribunal do crime", criado pela facção para julgar, absolver ou condenar à morte os desafetos e traidores do grupo. A situação exposta em Alagoas ocorre justamente neste setor da organização, no caso, em âmbito local.
A "sintonia geral do sistema", célula que cuida dos assuntos de interesse da organização dentro dos presídios paulistas, também é comandada por homens.
As mulheres desempenham cargo de chefia só nas penitenciárias femininas. Em cada unidade há uma "disciplina". Elas são escolhidas a dedo pelos líderes masculinos da sintonia final geral.
Mulheres no PCC podem chegar a 6.000 em São Paulo
Há centenas de mulheres batizadas no PCC nas ruas e nas prisões. Elas formam um comando feminino, mas não têm poder de decisão. A palavra final é de um líder. Isso não as impede de participar de atividades criminosas para o PCC, como resgates, sequestros, roubos ou tráfico.
Segundo a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), 60% das 10.190 presidiárias do estado de São Paulo respondem pelo crime de tráfico de drogas. Os números são de 30 de junho deste ano.
Se for levado em consideração que o PCC monopoliza a venda de entorpecentes no território paulista, presume-se que seis em cada dez presas no estado são integrantes da organização. O número aumenta a cada ano, mesmo com as mulheres não tendo poder de mando final no grupo.
Em todos os organogramas do PCC divulgados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo ao longo de mais de duas décadas, só aparecem nomes e fotos de homens nos cargos de liderança.
Organização não admite homossexuais em seus quadros
Outra característica do PCC, desde sua fundação, é não admitir homossexuais em suas fileiras. Já houve vários casos de mulheres que exerciam a função de disciplina em presídios femininos e que foram expulsas porque tiveram relacionamento homoafetivo nas prisões ou nas ruas.
Para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público de São Paulo, a presença de mulheres na cúpula do PCC permanece inimaginável, pelo menos em território paulista.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.