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Josmar Jozino

Mulheres à frente de "tribunais" seriam mutação num PCC hipermasculino

Menina brinca em quadra com picho do PCC em Pedro Juan Caballero, no Paraguai - 29.jan.2020 - Marina Garcia/UOL
Menina brinca em quadra com picho do PCC em Pedro Juan Caballero, no Paraguai Imagem: 29.jan.2020 - Marina Garcia/UOL

Colunista do UOL

29/07/2020 04h03

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Se em Alagoas o PCC (Primeiro Comando da Capital) tem ao menos 18 mulheres com poder de liderança, conforme foi divulgado pelas forças de segurança locais, no estado de São Paulo a situação é bem diferente, pois a cúpula da facção criminosa sempre foi predominantemente masculina.

Aliás, essa é a primeira vez que se tem notícia sobre a existência de mulheres no topo da facção, como foi anunciado nesta terça-feira pela Polícia Civil alagoana, durante megaoperação. A informação surpreendeu autoridades policiais paulistas, que há quase três décadas investigam as ações da organização criminosa.

A cúpula do PCC no estado de São Paulo sempre aceitou mulheres em seus quadros, mas nunca deixou de manter uma espécie de "estrutura machista", pelo menos em termos de liderança.

A supremacia masculina sempre prevaleceu na facção e, segundo seus líderes, ela foi acordada em 2002, quando as mulheres de dois fundadores do grupo passaram a agir à revelia dos maridos, dando ordens para assassinatos, atentados e ataques.

Houve uma guerra interna sem precedentes na história da facção, com dezenas de mortes nas ruas e nos presídios. Segundo o Ministério Público Estadual, durante esse conflito Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, assumiu a liderança máxima da organização.

As principais células da facção, conhecidas como "sintonias", mantêm somente homens na liderança. Jamais houve a presença de mulheres, por exemplo, na "sintonia final geral", formada pelos chefões da organização.

As "sintonias"

Todas as outras 12 "sintonias", como as que cuidam do progresso (tráfico de drogas); paiol (armas); pé de borracha (veículos); gravatas (braço jurídico); cebola (contribuição mensal dos associados) têm apenas homens no comando.

O PCC conta com um disciplina (chefe) em cada bairro ou região do estado. O cargo é exercido por liderança masculina. A mesma situação é verificada no quadro do "tribunal do crime", criado pela facção para julgar, absolver ou condenar à morte os desafetos e traidores do grupo. A situação exposta em Alagoas ocorre justamente neste setor da organização, no caso, em âmbito local.

A "sintonia geral do sistema", célula que cuida dos assuntos de interesse da organização dentro dos presídios paulistas, também é comandada por homens.

As mulheres desempenham cargo de chefia só nas penitenciárias femininas. Em cada unidade há uma "disciplina". Elas são escolhidas a dedo pelos líderes masculinos da sintonia final geral.

20/07/2020: Polícia prende mais de 100 integrantes do PCC

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Mulheres no PCC podem chegar a 6.000 em São Paulo

Há centenas de mulheres batizadas no PCC nas ruas e nas prisões. Elas formam um comando feminino, mas não têm poder de decisão. A palavra final é de um líder. Isso não as impede de participar de atividades criminosas para o PCC, como resgates, sequestros, roubos ou tráfico.

Segundo a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária), 60% das 10.190 presidiárias do estado de São Paulo respondem pelo crime de tráfico de drogas. Os números são de 30 de junho deste ano.

Se for levado em consideração que o PCC monopoliza a venda de entorpecentes no território paulista, presume-se que seis em cada dez presas no estado são integrantes da organização. O número aumenta a cada ano, mesmo com as mulheres não tendo poder de mando final no grupo.

Em todos os organogramas do PCC divulgados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo ao longo de mais de duas décadas, só aparecem nomes e fotos de homens nos cargos de liderança.

Organização não admite homossexuais em seus quadros

Outra característica do PCC, desde sua fundação, é não admitir homossexuais em suas fileiras. Já houve vários casos de mulheres que exerciam a função de disciplina em presídios femininos e que foram expulsas porque tiveram relacionamento homoafetivo nas prisões ou nas ruas.

Para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público de São Paulo, a presença de mulheres na cúpula do PCC permanece inimaginável, pelo menos em território paulista.