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Operação contra PCC mira protagonismo de mulheres em "tribunais do crime"

Operação Flashback 2 cumpre 212 mandados, com Alagoas tendo o maior número - Divulgação/SSP-AL
Operação Flashback 2 cumpre 212 mandados, com Alagoas tendo o maior número Imagem: Divulgação/SSP-AL

Do UOL, em São Paulo

28/07/2020 08h56Atualizada em 28/07/2020 16h30

O Ministério da Justiça e Segurança e Pública coordena a realização da Operação Flashback 2, que tem como foco desarticular um grupo do PCC (Primeiro Comando da Capital) que concentraria as ordens dos chamados "tribunais do crime", responsáveis por julgar e punir inimigos e próprios membros da facção criminosa dentro e fora dos presídios. A ação cumpre hoje 212 mandados de busca e apreensão e de prisão em dez estados.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de Alagoas afirmou que a operação destacou o protagonismo feminino nos "tribunais do crime". As investigações apontaram um crescimento na ocupação de cargos de chefia da facção por mulheres, chamadas de "damas do crime" pela operação. Nas ações de hoje, 40 mandados visavam integrantes mulheres do PCC.

"Ficou constatado pela unidade especializada que o núcleo das damas do crime é composto por 18 mulheres e apenas um homem", afirma a nota. "As mulheres têm perfil igualmente violento ao dos homens da facção quando definem julgamentos ocorridos nos tribunais do crime", acrescenta o texto.

Segundo a investigação, as mulheres conduzem rituais nos "tribunais do crime" e também elaboram "peças conclusivas" sobre os alvos das ações de justiça da facção, determinando condenações ou absolvições.

Ação sincronizada

Em uma ação sincronizada com a operação liderada pelo Ministério da Justiça, a PF em Alagoas também realizou a operação Njord, que tem como objetivo desarticular uma célula do PCC que enviaria drogas ao estado nordestino. A ação concentrou o cumprimento de 39 mandados de prisão e 25 de busca e apreensão em Maceió, São Paulo e em cidades do Mato Grosso do Sul e Paraná.

Por meio de nota, a PF (Polícia Federal) de Alagoas disse que "durante três meses de investigação, não foram poucas as provas produzidas que materializam os crimes de tráfico e associação para o tráfico de drogas cometidos pelos investigados".

"Neste mesmo espaço de tempo, os policiais federais conseguiram realizar 4 prisões em flagrante delito de 5 dos investigados por tráfico de drogas, sendo 2 delas em Maceió e 2 no estado do Mato Grosso do Sul", complementou a PF, por volta das 10h.

A PF explicou que, no curso da investigação, foram identificados os integrantes do PCC responsáveis pela aquisição e transporte da droga até Alagoas, bem como os traficantes responsáveis pelo recebimento e distribuição da droga.

"A Polícia Federal constatou que parte do pagamento da droga se dava por contas bancárias abertas em nomes de pessoas residentes em São Paulo e no Paraná. As contas foram bloqueadas por decisão da 17ª Vara Criminal da Capital, e os titulares das contas levados a prestar esclarecimentos na Polícia Federal", acrescentou.

Buscas e histórico

As buscas da Operação Flashback 2 se concentram em Alagoas, com 73 mandados sendo cumpridos na capital Maceió e 98 ao todo no estado. Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí e São Paulo também estão entre os destinos das ações. O objetivo principal é desarticular um grupo do PCC com base em Mato Grosso do Sul, de onde partem as ordens para as ações dos "tribunais do crime" de todo país.

A Operação Flashback já teve uma primeira fase em novembro do ano passado, também com foco nas ações de justiça da facção criminosa. A segunda fase de hoje é realizada em parceria com a SSP-AL (Secretaria de Segurança Pública de Alagoas), a PF (Polícia Federal), além da Polícia Civil e Militar do estado alagoano.

O início da investigação do ano passado ocorreu com a escuta telefônica de um criminoso, identificado como Marcelo Lima Gomes, o Maré Alta, tido como chefe do PCC em Alagoas, que acompanhou, mesmo preso, por telefone, um homicídio contra um rival, identificado como Scooby. Na gravação, publicada pelo UOL à época, foi possível ouvir:

"Já vai preparando esse facão aí que, daqui a pouco, nós vamos detonar ele. Grava o vídeo. Pode botar um facão na cabeça dele. Pode detonar a cabeça dele. Só põe um bagulho na boca dele para ele não gritar. Mete o facão, detona esse bicho aí. Na boca do cara para ele não gritar. Põe no viva voz para a gente escutar o bagulho. Mata esse maldito, mata esse maldito. Esse já era, hein, irmão. Mata bem matado, irmão."