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Josmar Jozino

Ladrão é condenado a 11 anos por torturar em roubo milionário no Morumbi

Tavares de Oliveira usou choques elétricos e água fervendo ao torturar vítima, diz polícia - Reprodução
Tavares de Oliveira usou choques elétricos e água fervendo ao torturar vítima, diz polícia Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/12/2020 04h00

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A Justiça condenou a 11 anos e quatro meses de prisão o líder de uma quadrilha que invadiu uma mansão no Morumbi, na zona sul da capital, em setembro de 2017, e torturou com choques elétricos, água fervendo e golpes de espada um advogado e três empregados dele. A decisão saiu na quarta-feira (16).

A juíza Érica Aparecida Ribeiro Lopes e Navarro Rodrigues, da 22ª Vara Criminal da Capital, também fixou o valor mínimo de R$ 2 milhões para reparação dos danos causados à vítima. O Código Penal prevê a indenização, mas os réus dificilmente pagam.

A defesa de João Vinícius Tavares de Oliveira argumentou nas alegações finais do processo que ele é inocente, não cometeu o crime, não foi reconhecido pelos empregados do advogado, trabalhava em uma funilaria e sempre teve endereço fixo.

Vigia foi preso e disse que mulher foi sequestrada

Segundo investigações da Polícia Civil, o roubo só possível por causa da ajuda de um vigia, hoje com 53 anos. Ele era funcionário de uma empresa responsável pela segurança no bairro e foi condenado em março deste ano a oito anos por facilitar a entrada dos assaltantes na residência.

O vigia alegou que a mulher dele havia sido sequestrada pelos ladrões e que, se ele não facilitasse o acesso do bando ao imóvel, ela seria morta. A farsa foi descoberta por policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil.

O advogado dono da mansão pagava R$ 30 mil mensais à empresa de segurança para ter proteção. Ele, um empregado e duas arrumadeiras foram surpreendidos por oito assaltantes com três fuzis —um deles com a inscrição PCC (Primeiro Comando da Capital)—, revólveres e pistolas com mira laser. O vigia se passou por vítima e foi amarrado junto com os empregados.

A quadrilha era bem organizada e carregava até detector de metal manual, semelhante aos usados em aeroportos, para se certificar que nenhuma das vítimas estava armada. Os ladrões usavam capuz para esconder o rosto e luvas cirúrgicas para não deixar impressões digitais.

O assaltante João Vinícius Tavares de Oliveira, que tinha 21 anos à época, era o mais violento. Foi ele quem torturou o advogado. O ladrão queria a qualquer custo saber onde ficava o cofre. E ameaçava o tempo todo matar a vítima.

O criminoso exigiu que uma das arrumadeiras fosse à cozinha para ferver água em uma panela. Ele ligou dois fios em um interruptor e os acoplou ao recipiente. O advogado foi obrigado a colocar as mãos na água quente umas cinco vezes e recebeu vários choques elétricos.

Enquanto torturava a vítima, Oliveira dizia: "você vai morrer. Deus te abandonou". E continuava com as ameaças e xingamentos: "Grita seu filho da puta. Quero ver você chorar. Quero ver você mijar aqui na minha frente. Vou arrancar os seus olhos".

O torturador jogou água quente na orelha do advogado e aplicou vários golpes na cabeça dele com uma espada e a coronha de um fuzil. Humilhado e constrangido, a vítima começou a chorar. Sentiu tanta dor que chegou a urinar nas calças. Sofreu queimaduras de segundo grau.

O ladrão violento tinha prazer em torturar. Ao mesmo tempo ele fazia um discurso: "Nós só roubamos ricos. Estamos roubando pelo povo".

E sabia tudo sobre relógio. Tinha conhecimento de marcas e valores das peças.

Os assaltantes descobriram onde ficava o cofre. Roubaram 13 relógios de luxo, três deles da marca Cartier. Recolheram outras joias, obras de arte, perfumes importados, roupas de grife, eletroeletrônicos, R$ 40 mil em espécie, além de outras quantias em dólares, euros e libras esterlinas. A vítima declarou à Polícia Civil que sofreu prejuízo de R$ 6 milhões.

Caminhão levou produtos roubados

Os ladrões usaram um caminhão para levar os produtos roubados. Eles tinham informação privilegiada sobre a mansão e sabiam da existência de botões de pânico no imóvel. O Deic passou a desconfiar do vigia. Ele foi ouvido e prestou depoimentos contraditórios.

Disse que tinha um carro, mas só usava o veículo no fim de semana no município onde morava, na Grande São Paulo. Policiais apuraram que um dia antes do crime o automóvel circulou na zona leste da capital. Foi lá que a quadrilha se reuniu para traçar detalhes do assalto.

A juíza Érica Rodrigues concedeu ao vigia o direito de recorrer da condenação em liberdade. Outros três assaltantes foram identificados e condenados também em março pela mesma magistrada. A pena deles foi idêntica à aplicada ao ladrão torturador.

O advogado torturado ficou traumatizado, deprimido e assustado. Ele deixou o Brasil e morou por uns tempos nos Estados Unidos. Segundo a Polícia Civil, até hoje vive à base de ansiolíticos e antidepressivos.