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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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"Tribunal do crime" pode ter matado integrante de célula terrorista do PCC

Nadim Georges Hanna Awad Neto, 42, um dos principais integrantes do PCC - Reprodução
Nadim Georges Hanna Awad Neto, 42, um dos principais integrantes do PCC Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

05/03/2021 04h00Atualizada em 05/03/2021 18h36

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Nadim Georges Hanna Awad Neto, 42, um dos principais integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em liberdade, acusado de pertencer à célula terrorista da facção criminosa, pode ter sido mais uma vítima condenada à morte pelo "tribunal do crime" da própria organização.

Policiais que investigam o crime organizado afirmaram ao UOL que Nadim sumiu misteriosamente e deve ter sido assassinado. Acrescentaram também que o carro dele foi encontrado sem a chave por familiares na região da Vila Maria, zona norte da capital paulista, um dia após o sumiço. Oficialmente, porém, não há qualquer registro de boletim de ocorrência sobre o desaparecimento.

O advogado da família de Nadim foi contatado pelo UOL e confirmou à reportagem que ele está desaparecido há aproximadamente um mês.

Os policiais ouvidos pelo UOL disseram que o sumiço de Nadim pode ter sido motivado por desvio de dinheiro da facção ou então por delação de algum comparsa. "Ele era do tribunal do crime e foi vítima do próprio tribunal do crime. Vai ser difícil encontrar o corpo dele", disse um policial.

"Playboy do PCC"

Segundo o policial, Nadim era uma espécie de "playboy do PCC", pois costumava pilotar uma Ferrari, gostava de roupas de grife e morava em uma cobertura na região de Santana, na zona norte da capital paulista. "O padrão de vida dele era de classe alta. Tinha até lancha no litoral paulista", afirmou.

De acordo com investigações do MPE (Ministério Público Estadual), Nadim pertencia à célula terrorista do PCC e foi acusado com outros sete comparsas de realizar levantamentos de endereços de autoridades consideradas inimigas da facção e marcadas para morrer.

A missão do PCC era cometer atentados em represália à transferência da alta cúpula da organização criminosa para penitenciárias federais, realizada em 13 de fevereiro de 2019. Os alvos eram um promotor de Justiça, um deputado estadual, dois ex-secretários de Estado e um coordenador de presídio.

O plano da célula terrorista foi descoberto duas semanas após as remoções da liderança do PCC, quando dois homens acusados de pertencer à quadrilha visitaram três condomínios no interior de São Paulo. Ambos se passaram por funcionários de uma operadora de TV.

Em um dos condomínios mora uma das autoridades. Em outros residem policiais que atuam no Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão subordinado ao MPE.

Um dos porteiros do local desconfiou da dupla. Os falsos funcionários disseram que iriam averiguar a intensidade do sinal da operadora no condomínio. Mas nenhum morador havia solicitado o serviço.

A dupla se apresentou com nome verdadeiro na portaria. E, além disso, também foi filmada dentro de um veículo pelas câmeras de segurança. O Gaeco investigou o caso, descobriu a farsa e identificou os demais acusados.

Em maio de 2019, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da Polícia Militar, e agentes do Gaeco cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços relacionados a oito homens apontados como integrantes da célula terrorista.

Um dos mandados foi cumprido em imóveis ligados a Marcos Roberto de Almeida, 49, o Marcos Tuta. Segundo o Gaeco, ele é o principal homem ainda em liberdade, de confiança de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da facção.

Em um endereço de Marcos Tuta, na avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi, zona oeste de São Paulo, PMs da Rota encontraram um Porsche Macan branco. Em outro imóvel foram apreendidos R$ 182.620,00 em espécie. Os mandados foram cumpridos durante a deflagração da Operação Jiboia. O processo tramita em segredo de justiça.

Nadim respondeu a processos por tráfico de drogas, roubo, extorsão, ameaça, formação de quadrilha e associação ao tráfico. Ele deixou a Penitenciária de Pacaembu (SP) em 6 de dezembro de 2003.