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Desvio de drogas do PCC: Corregedoria investiga mais dois policiais em SP
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A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo mandou instaurar no último dia 10 outro inquérito para apurar o suposto envolvimento de mais dois investigadores em um esquema de desvio de drogas apreendidas com traficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em operações policiais.
Com essa decisão sobe para cinco o número de policiais investigados. Os outros três estão na mira da Divisão de Crimes Funcionais da Corregedoria desde janeiro deste ano, quando foi aberto o primeiro inquérito. Os suspeitos eram do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Os dois novos alvos já atuaram juntos no Deic e no Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico). Segundo a Corregedoria, um deles agora exerce cargo de chefia em uma delegacia da zona norte da cidade e o outro trabalha no DPPC (Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania).
A Divisão de Apurações Preliminares da Corregedoria recebeu denúncias informando que os dois policiais se envolveram com um narcotraficante de drogas da zona norte de São Paulo, conhecido como "Barão do Pó", responsável pela exportação de cocaína para a Europa via porto de Santos.
De acordo com as denúncias, um dos investigadores, quando ainda atuava no Deic, corrompia os policiais corruptos para participar do esquema. O outro investigador é acusado de enviar a cocaína apreendida ao "Barão do Pó" para posterior remessa da droga ao continente europeu.
Como os envolvidos têm alto padrão de vida, a Corregedoria decidiu abrir inquérito para apurar possíveis crimes de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, mas deixando claro que "não se pretende apressar juízo de valor sobre os agentes e condutas, tampouco dar certeza de crimes nesta fase embrionária".
Escritura lavrada no presídio
As apurações preliminares constataram que o investigador da zona norte comprou de outro investigador recolhido no Presídio Especial da Polícia Civil um apartamento no Campo Belo, bairro de classe alta na zona sul paulistana, por R$ 800 mil. O valor do imóvel no mercado está acima de R$ 2 milhões.
Ainda segundo a Corregedoria, a escritura foi lavrada nas dependências do presídio em 2018. O investigador que vendeu o imóvel está preso desde 2016. Ele foi acusado de se associar ao PCC e de ter desviado junto com outro policial civil drogas do cofre do Denarc.
As drogas subtraídas, especialmente cocaína, eram repassadas para integrantes do PCC. As investigações apontaram que o esquema perdurou até o dia 18 de outubro de 2016. O policial preso responde a processo com outros 13 réus.
O imóvel de 135 metros quadrados comprado em Campo Belo pelo investigador da zona norte foi adquirido em nome de uma empresa dele. Da mesma maneira ele também comprou um Toyota Hilux avaliado em R$ 345 mil.
Em relação ao investigador do DPPC foi apurado que ele era dono de um automóvel BMW avaliado em R$ 108 mil e que em fevereiro de 2017 passou o cadastro do veículo para o investigador da zona norte. Para a Corregedoria, isso mostra um "vínculo próximo entre os dois policiais objetos das denúncias".
Já o "Barão do Pó" aparece nas apurações preliminares da Corregedoria como dono de uma empresa na zona norte. Porém, no mesmo endereço está registrada uma loja de serviços e peças automotivas em nome de um outro investigador da Polícia Civil que também exerceu atividades no Denarc.
Flagrante duvidoso
Depois das notícias do suposto envolvimento de policiais civis do Deic com desvio de cocaína do PCC, divulgadas também nesta coluna, advogados vêm questionando à Justiça casos de flagrantes de tráficos de drogas efetuados por investigadores daquele departamento.
Uma das queixas refere-se a um vendedor e um corretor, ambos de 34 anos, presos em setembro do ano passado sob a acusação de escoltar um caminhão-guincho no qual foram apreendidos 54 kg de cocaína, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo.
A prisão foi feita por policiais da 6ª Delegacia de Combate às Facções Criminosas, do Deic. Os agentes disseram que receberam denúncia sobre ocupantes de um Renault Sandero com placa de final 8, que estariam escoltando um caminhão-guincho transportando drogas do PCC.
Na versão dos policiais civis, os veículos foram avistados entre o bairro de Guaianazes, na zona leste, e em Ferraz de Vasconcelos. Os agentes alegaram que optaram em abordar o carro e que a cem metros mais à frente o caminhão parou e os ocupantes fugiram.
Imagens de câmeras de segurança da região mostram dois homens descendo do caminhão e andando tranquilamente. No vídeo aparece os policiais prendendo somente o corretor e o vendedor.
Advogados dos dois homens presos afirmaram em petições judiciais que um dos ocupantes do caminhão foi reconhecido por populares, detido por policiais militares e levado ao local dos fatos, mas que acabou dispensado pelos policiais civis do Deic.
Em uma das petições, os advogados questionam à Polícia Civil se os investigadores que prenderam o corretor e o vendedor responderam ou respondem a algum processo disciplinar, já que pertenciam à mesma delegacia do Deic na qual agentes são suspeitos de desviar drogas do PCC.
A Promotoria de Justiça manifestou-se contra o pedido, mas o juiz do caso foi a favor da solicitação, alegando respeito à ampla defesa, e mandou oficiar a Corregedoria da Polícia Civil.
A resposta foi enviada à Justiça no último dia 14. Um dos policiais civis já respondeu a seis procedimentos disciplinares, sendo dois deles por suspeita de enriquecimento ilícito. Já o vendedor e o corretor acusados por tráfico de drogas foram soltos e continuam respondendo ao processo.
As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.
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