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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Investigados por lavagem de dinheiro do PCC têm 45 imóveis só no Tatuapé

Jardim Anália Franco se tornou epicentro de um conflitos sangrentos envolvendo o PCC - Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo
Jardim Anália Franco se tornou epicentro de um conflitos sangrentos envolvendo o PCC Imagem: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

28/03/2022 04h00Atualizada em 28/03/2022 13h34

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Inquéritos instaurados pela Polícia Federal e Polícia Civil de São Paulo mostram que alvos investigados por suspeitas de lavagem de dinheiro de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) são proprietários de ao menos 45 imóveis de luxo só no Tatuapé, boa parte deles no Jardim Anália Franco.

O bairro da zona leste paulistana é, desde fevereiro de 2018, o epicentro de um dos maiores conflitos sangrentos envolvendo a maior facção criminosa do país pela disputa de dinheiro e poder. A região tornou-se, ao mesmo tempo, endereço de chefes da organização e palco de assassinatos.

A Polícia Civil apurou que apenas um dos alvos investigados tem em seu nome 95 imóveis. Desse total, 25 ficam no Tatuapé. Os demais estão espalhados por outros bairros paulistanos; em Sorocaba, no interior; e também em Bertioga, Guarujá e Praia Grande, no litoral paulista.

Em depoimento, o alvo, um homem de 47 anos, apresentou-se como engenheiro. Ele alegou que é construtor na zona leste e que vários imóveis têm matrículas no nome dele, mas que não são de sua propriedade e funcionam como caução, ou seja, garantia para transações imobiliárias.

Mas, segundo a Polícia Civil, o alvo já foi indiciado por receptação, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Investigadores apuraram que ele é sócio de uma empresa no Tatuapé e tem como um dos endereços um apartamento num luxuoso edifício no Jardim Anália Franco.

A Polícia Civil sabe que o alvo é amigo do sargento Farani Salvador Freitas Júnior, 38, recolhido no Presídio Militar Romão Gomes por suspeita de ser o mandante do assassinato do cabo Wanderley Oliveira de Almeida Júnior, 38, morto a tiros em Itaquera, zona leste, em fevereiro de 2020.

Em nome do sargento também foram encontrados dois apartamentos no Tatuapé. De acordo com o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), o cabo descobriu que Farani recebia R$ 200 mil por mês de narcotraficantes e por esse motivo acabou morto.

O sargento é acusado de ser pistoleiro do PCC e de ter trabalhado, inclusive na escolta particular, para narcotraficantes do Tatuapé ligados à facção criminosa. O PM é investigado pelo DHPP por homicídios registrados no mesmo bairro envolvendo integrantes da organização.

Os advogados do sargento afirmam que ele não integra o PCC, não é pistoleiro, nunca recebeu dinheiro de narcotraficantes e não mandou matar o cabo Wanderley. Segundo os defensores, Farani sempre foi um PM exemplar, com comportamento excelente e recebeu vários elogios ao longo da carreira.

"O dono do Tatuapé"

Outro inquérito da Polícia Federal sobre lavagem de dinheiro envolvendo pessoas ligadas ao PCC mostra que três alvos mais importantes na investigação têm dezenas de empresas de fachada e postos de combustíveis. Todos eles moram em edifícios de alto padrão no Jardim Anália Franco.

A Polícia Federal intensificou as investigações em fevereiro de 2018, logo depois das mortes de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca. Ambos eram da alta cúpula do PCC e foram assassinados a tiros na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará.

O narcotraficante Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, acusado de ter planejado e participado das mortes de Gegê e Paca, foi assassinado uma semana depois desse duplo homicídio. O crime aconteceu na porta de um flat na Rua Eleonora Cintra, no Tatuapé, onde ele costumava ficar hospedado.

O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), unidade da Polícia Civil, apurou em mais um inquérito sobre lavagem de dinheiro que Cabelo Duro, embora tivesse o hábito de ficar no flat, tinha uma empresa e dois apartamentos no Tatuapé.

A última vítima do conflito sangrento assassinada no bairro é Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, conhecido como Magrelo ou Cara Preta. Ele foi morto a tiros junto com seu motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, em 27 de dezembro de 2021, na rua Armindo Guaraná.

Cara Preta era chamado nos meios policiais de "O dono do Tatuapé". Investigadores do Deic e do DHPP que pediram anonimato disseram à reportagem que o narcotraficante era proprietário de restaurantes, casas de shows e outras empresas e morava em um apartamento milionário no bairro.

Cinco pessoas investigadas na trama que envolve o assassinato de Cara Preta também residem no Tatuapé. Duas delas foram indiciadas por lavagem de dinheiro e moram no mesmo condomínio, no Jardim Anália Franco. O edifício tem um apartamento por andar.