Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Justiça absolve dono de drone acusado de monitorar juíza para o PCC em SP

Fotos apreendidas no notebook do acusado mostram drone que a polícia diz que foi usado para monitorar juíza - Reprodução
Fotos apreendidas no notebook do acusado mostram drone que a polícia diz que foi usado para monitorar juíza Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

01/06/2022 04h00Atualizada em 01/06/2022 11h30

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Uma juíza de direito e o marido dela, um delegado da Polícia Federal, ficaram assustados na noite de 15 de setembro de 2020, quando souberam por um vizinho que um drone branco estava sobrevoando a residência do casal em Presidente Venceslau (SP).

Não faltavam motivos para o temor do casal. A cidade abriga duas penitenciárias lotadas de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). Além disso, um juiz da região, Antônio José Machado Dias, foi assassinado pela facção criminosa em 14 de março de 2003 na vizinha Presidente Prudente.

A Polícia Civil agiu rápido e apurou que o drone pertencia a um engenheiro de 38 anos. Investigadores descobriram ainda que o equipamento também tinha sobrevoado toda a extensão territorial da Penitenciária 1 de Venceslau e feito imagens dos pavilhões e das áreas interna e externa da unidade.

O engenheiro foi localizado e prestou depoimento em 16 de setembro de 2020 na DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Presidente Venceslau. Ele alegou que fez os sobrevoos com o drone por diversão, sem saber que eram área restrita e local próximo de residência de autoridades.

O suspeito teve a vida devassada e sigilos quebrados. Foi cumprido mandado de busca e apreensão na casa dele. O drone branco não foi encontrado. Só um cinza. O equipamento, dois notebooks, cartões de empresas, impressoras, maquininhas de venda e um telefone celular foram levados para a DIG.

A situação do engenheiro piorou quando os agentes descobriram que ele havia sido condenado por estelionato. Para as autoridades de Presidente Venceslau, não havia dúvidas de que o acusado estava a serviço do PCC e poderia inclusive falsificar papel-moeda e até documentos pessoais.

A Polícia Civil tratou de pedir à Justiça a prisão temporária por 30 dias do engenheiro. E o pedido foi deferido. Relatórios policiais diziam que o suspeito era vinculado ao PCC e fornecia informações valiosas para a facção matar autoridades e resgatar seus líderes presos em Venceslau.

Em depoimento, a juíza que acredita ter sido monitorada com o auxílio do drone afirmou que temia pela segurança dela e também da família, caso o suspeito ficasse em liberdade. O engenheiro foi preso em 23 de setembro de 2020.

Um mês preso

O acusado depôs novamente e admitiu ter usado o drone branco e feito fotos da Penitenciária 1 de Venceslau, mas acrescentou que não tinha envolvimento com o PCC. Ele contou que vendeu o equipamento para uma pessoa no Paraná e confirmou ter cometido estelionato para quitar as dívidas.

O engenheiro escreveu uma carta à Promotoria de Justiça de Presidente Venceslau, contando que foi acusado injustamente de fazer parte do PCC. Ele narrou ainda que, no dia da prisão, havia sido ameaçado e agredido por dois investigadores e que a mãe dele, uma idosa aposentada, havia tido uma arma apontada para sua cabeça.

O suspeito ficou pouco mais de um mês atrás das grades. Foi solto em 31 de outubro de 2020. No último dia 23, o juiz Gabriel Medeiros, da 1ª Vara Criminal de Presidente Venceslau, absolveu o engenheiro acusado pelo crime de associação a organização criminosa.

Na sentença, o magistrado observou que os indícios colhidos durante as investigações foram insuficientes para fundamentar a condenação e que durante a instrução processual não foi produzida prova concreta sobre o envolvimento do réu com a organização criminosa PCC.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.