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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Deputado do Paraguai mentiu em juízo para favorecer líderes do PCC, diz MPF

Deputado Luís Alberto Guillen Zarate, do Paraguai, é acusado pelo MPF do Brasil de fazer afirmações falsas à Justiça para favorecer líderes presos do PCC - Reprodução
Deputado Luís Alberto Guillen Zarate, do Paraguai, é acusado pelo MPF do Brasil de fazer afirmações falsas à Justiça para favorecer líderes presos do PCC Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

08/06/2022 04h00

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O MPF (Ministério Público Federal) do Brasil denunciou à Justiça o deputado do Paraguai Luís Alberto Guillén Zarate por fazer afirmação falsa na condição de testemunha em audiência judicial para favorecer líderes do PCC (Primeiro Comando na Capital) presos na fronteira dos dois países.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados do denunciado, mas publicará na íntegra a versão dos defensores assim que houver uma manifestação.

Segundo o MPF, em 6 de julho do ano passado, o deputado prestou depoimento na 1ª Vara Federal de Ponta Porã (MS) como testemunha de defesa de Wesley Neres dos Santos, 36, o Bebezão --designado pelo PCC para chefiar o tráfico de drogas e armas na região fronteiriça.

Bebezão e outros 13 criminosos tinham sido presos em 22 de março de 2021 em Pedro Juan Caballero, durante a operação Fronteira Segura, desencadeada em conjunto pela Polícia Federal do Brasil e Senad (Secretaria Antidrogas do Paraguai).

No depoimento, Zarate afirmou que era chefe de recursos humanos da San José Service, na cidade de Villa Rica, a 200 km da capital Assunção. Ele acrescentou que Bebezão trabalhava na empresa e morava na cidade de Presidente Franco, departamento de Alto Paraná, perto de Ciudad del Leste.

O deputado disse que Bebezão fazia entregas de produtos, além de pagamentos, recebia salário mensal de US$ 750 e também que havia trabalhado na San José Service no período de 17 de agosto de 2020 até 20 de março de 2021.

O MPF apurou que Zarate não poderia exercer a função de chefe de recursos humanos na empresa em Villa Rica e, ao mesmo tempo, ocupar o cargo de parlamentar no Departamento de Amambay.

Para os procuradores da República, o deputado fez a afirmação falsa em juízo com a intenção de criar um álibi para Bebezão e mostrar que o líder do PCC na fronteira tinha residência e emprego fixos. O criminoso foi condenado a 33 anos por tráfico de drogas e associação à organização criminosa.

Já havia mentido antes

Essa não foi a primeira afirmação falsa do deputado em juízo. Ainda de acordo com o MPF, ao depor na Corte Suprema de Justiça do Paraguai em 15 de janeiro de 2020, Zarate negou ter atuado como advogado em um habeas corpus em favor de seis integrantes do PCC.

Os seis brasileiros integravam a quadrilha de Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 37, o Minotauro, um dos principais líderes do PCC na fronteira do Brasil com o Paraguai. Ele foi preso pela Polícia Federal em 4 de fevereiro de 2019 em Balneário Camboriú, Santa Catarina.

O deputado insistiu em dizer que não atuava como advogado desde 2018. Mas o MPF realizou pesquisas, teve acesso na íntegra ao habeas corpus e apresentou o documento provando que Zarate defendeu os seis criminosos brasileiros do PCC no período em que já exercia mandato parlamentar.

O MPF denunciou o deputado com base no artigo 342 do Código Penal (fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial ou administrativo, inquérito policial ou em juízo). A pena é de 2 a 4 anos.

Como o denunciado é estrangeiro, o MPF também solicitou à Justiça que ele seja citado e intimado a responder ao processo mediante os mecanismos de cooperação internacional previstos na legislação.