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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Policial civil ajudou narcotraficante do PCC a tirar RG falso em SP

Jardim Anália Franco se tornou epicentro de um conflito sangrento envolvendo o PCC - Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo
Jardim Anália Franco se tornou epicentro de um conflito sangrento envolvendo o PCC Imagem: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

03/06/2022 04h00

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Um investigador da Polícia Civil de São Paulo é acusado de ter levado pessoalmente o narcotraficante Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital), para tirar um RG falso em um posto do IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt) em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

Com o documento falso obtido com a ajuda do policial, o criminoso, morto a tiros no ano passado, adquiriu uma das maiores empresas de ônibus da zona leste de São Paulo. A informação foi divulgada pelo repórter Fábio Diamante na edição desta quinta-feira (2) no SBT Brasil.

Fontes policiais confirmaram à reportagem que o investigador foi afastado das funções e que a Corregedoria da Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso. Ele também responde a processo no Tribunal do Júri por envolvimento em uma operação que terminou com a morte de dois inocentes.

Cara Preta foi assassinado em dezembro de 2021 no Tatuapé, zona leste paulistana. Ele era um grande fornecedor de armas e drogas para o PCC. A morte dele acirrou o conflito na organização criminosa. Noé Alves Schaun, 42, acusado de matá-lo, foi decapitado pelo "tribunal do crime" da facção.

Empresa de ônibus

Segundo policiais civis, foi com o nome falso de Eduardo Camargo de Oliveira que Cara Preta adquiriu a empresa de ônibus UPBUS Qualidade em Transportes Ltda. A companhia fechou contrato com a Prefeitura de São Paulo, através de licitação, no valor de R$ 574 milhões por ano. Porém, delegados responsáveis pela investigação afirmam que Cara Preta adquiriu cotas da empresa não com nome falso, mas em nome do pai, da irmã e de um primo dele.

A empresa opera 13 linhas de ônibus na zona leste de São Paulo. O capital social era de R$ 1 milhão quando foi aberta. Posteriormente, o valor foi aumentado para R$ 20 milhões. Policiais disseram que parentes de Cara Preta e ao menos seis integrantes do PCC são acionistas da UPBUS.

Cara Preta era investigado por lavagem de dinheiro havia um ano. Na manhã desta quinta-feira (2), policiais civis realizaram uma operação para desarticular o esquema da organização criminosa comandada pelo narcotraficante no passado.

Foram cumpridos 62 mandados de busca e apreensão, inclusive na sede da UPBUS, e em endereços ligados aos sócios da empresa. Em um dos locais, os agentes apreenderam fuzis, pistolas, revólveres e submetralhadora. O armamento estava legalizado em nome de colecionadores.

A Polícia Civil suspeita que as armas estavam em nome de laranjas a serviço do PCC para a prática de assaltos e outros crimes contra o patrimônio. No endereço de outro alvo apontado como um dos sócios da UPBUS foram encontrados R$ 50 mil em espécie.

O que diz a prefeitura

A empresa de ônibus continua funcionando normalmente. A Polícia Civil sustenta que Cara Preta e os sócios adquiriram a empresa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e diz que não pediu a interrupção do serviço de transporte público prestado pela UPBUS porque a medida iria prejudicar milhares de usuários.

Advogados da empresa não quiseram se manifestar. Já a Prefeitura de São Paulo divulgou nota esclarecendo que não foi informada a respeito do teor das investigações, mas que irá acompanhar o caso e colaborar com a polícia naquilo que for solicitada.

A nota diz ainda que a UPBUS é concessionária operadora do transporte público, após ter vencido processo licitatório.