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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Presos são condenados por liderar movimento solidário a Marcola em SP

21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, é levado de prisão em Brasília para fazer exames médicos - Lucio Tavora/Xinhua/Folhapress
21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, é levado de prisão em Brasília para fazer exames médicos Imagem: Lucio Tavora/Xinhua/Folhapress

Colunista do UOL

26/08/2022 04h00Atualizada em 26/08/2022 10h22

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O "salve" (comunicado) do PCC (Primeiro Comando da Capital) foi espalhado no sistema prisional paulista e informava que o preso Marco Willians Herbas Camacho, 54, o Marcola, apontado como líder máximo da facção criminosa, vinha sofrendo maus-tratos em uma penitenciária federal.

A ordem do PCC para a massa carcerária era a realização de um movimento nas unidades prisionais de São Paulo em solidariedade a Marcola. Por determinação da organização, nenhum preso poderia sair para atendimento, incluindo entrevistas com advogados e audiências judiciais.

Segundo investigações da Polícia Civil, em 16 de março de 2020, na Penitenciária 2 de Avaré (SP), os prisioneiros foram orientados pelos detentos Ederson Felipe de Oliveira, 28, Mateus Estevam de Jesus Novaes, 22, Matheus Lucas de Oliveira Cardoso, 23, e Valter Luiz Costa Júnior, 29, a cumprir à risca o "salve" do PCC.

Os quatro foram acusados por diretores e agentes penitenciários de subverter a ordem ao incitar os demais prisioneiros a realizar uma "greve branca" no presídio. A DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Avaré instaurou inquérito para apurar o caso.

Em 5 de julho de 2021, o Ministério Público no estado de São Paulo denunciou os acusados à Justiça por associação à organização criminosa. Os quatro presos viraram réus. Em juízo, eles negaram ter incitado os detentos a fazer "greve branca" em prol de Marcola e disseram não integrar o PCC.

Réus alegam inocência

Em depoimentos prestados à juíza Roberta de Oliveira Ferreira Lima, da 2ª Vara Criminal de Avaré, os réus alegaram que se reuniram com os demais presidiários para conversar sobre a covid 19 e sobre uma possível suspensão das visitas por causa da proliferação de coronavírus nas prisões.

Na audiência, os réus foram representados pela Defensoria Pública que sustentou não ter sido produzidas provas contra os acusados e que, portanto, os quatro tinham de ser absolvidos.

A reportagem telefonou para a Defensoria Pública de Avaré, para falar com o advogado Gladius Alexandre Rostinicoff Caglia, que representou os réus, mas não conseguiu contato. A versão dele será publicada na íntegra assim que houver uma manifestação.

Agentes penitenciários e diretores do presídio foram ouvidos como testemunhas de acusação e reafirmaram em juízo que os quatro réus incitaram os detentos a realizar uma "greve branca".

No entendimento da magistrada, as provas contra os acusados são robustas e, por isso, eles foram considerados culpados. Na quarta-feira (24), a juíza condenou Ederson Felipe de Oliveira e Mateus Estevam de Jesus Novaes a oito anos e dois meses. Matheus Lucas e Valter Luiz receberam uma pena de sete anos.

Segundo a juíza, Matheus Lucas e Valter "comandaram o referido encontro com os presos no Pavilhão 3 da unidade e Mateus Estevam e Ederson se encarregaram de impedir a saída dos detentos para atendimentos". Na avaliação da magistrada os réus "são membros da organização criminosa armada denominada PCC".

Na sentença, a juíza menciona que "após a reunião com os detentos, os réus se dirigiram aos agentes penitenciários e disseram: Aqui é o Primeiro Comando da Capital. Se nós não estivermos aqui, outros irão continuar o mete marcha" (seguir adiante para alcançar o objetivo).

Ederson Felipe e Mateus Estevam receberam uma pena maior porque, segundo a magistrada, ambos possuem maus antecedentes. Os quatro presos foram condenados em regime fechado. Cabe recurso.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.