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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Justiça manda soltar ex-presidente do Santos e mais três policiais

Orlando Rollo, ex-presidente do Santos, foi preso em novembro do ano passado - Ivan Storti/Santos FC
Orlando Rollo, ex-presidente do Santos, foi preso em novembro do ano passado Imagem: Ivan Storti/Santos FC

Colunista do UOL

17/03/2023 19h10Atualizada em 18/03/2023 14h02

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Uma busca pessoal feita por agentes federais contra um advogado criminalista anula uma investigação conduzida pela Polícia Federal sobre tráfico internacional de drogas e coloca nas ruas quatro policiais civis presos sob a acusação de desviar 790 kg de cocaína de um narcotraficante.

Foram expedidos nesta sexta-feira (17) alvarás de soltura em favor dos investigadores Orlando Galante Rollo, 44, ex-presidente do Santos; Joaquim Carlos de Freitas Bonorino Filho, 61, Marcelo Silva Paulo, 49, e Ricardo de Almeida Razões, 50.

Eles estavam presos preventivamente desde novembro do ano passado por decisão do juiz federal Roberto Lemos dos Santos Filho. A PF havia pedido a prisão dos quatro investigadores após analisar os telefones celulares apreendidos com o advogado João Manoel Armôa Júnior, 47, detido em agosto.

Segundo a PF, em um dos aparelhos havia mensagens de um policial negociando com o advogado R$ 4 milhões para devolver os 790 kg de droga apreendidos pelos investigadores com comparsas do narcotraficante Vinycius Soares da Costa, 33, o Evoque, cliente do criminalista.

Na última quarta-feira (15), a 5ª Turma do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região considerou ilegal a busca pessoal realizada pelos agentes contra Armôa, quando ele já estava nas dependências da delegacia da PF e os mandados de busca e apreensão já haviam sido cumpridos. A decisão anula as provas obtidas pela Polícia Federal após a apreensão dos dois celulares do advogado.

Os agentes federais tinham apurado que as negociações para o pagamento da propina aos policiais civis ocorreram dentro do 3ª DP de Santos e foram conduzidas por um policial civil que tinha um grupo no WhatsApp chamado "Todo lo peligro se covierte em plata".

A frase é atribuída ao megatraficante colombiano Pablo Escobar. Ele era chefe do cartel de Medellín e foi morto pela polícia em 2 de dezembro de 1993 naquela cidade. Na tradução do espanhol, o termo significa "todo perigo se converte em prata (dinheiro)".

A PF já tem suspeitas da identidade do "Peligro" brasileiro. As suspeições foram reforçadas após análises das imagens de câmeras de segurança do Porto de Santos, onde o contêiner com a droga foi aberto para ser periciado por técnicos do IC (Instituto de Criminalística), da Polícia Científica.

Os vídeos mostram um grupo de policiais civis acompanhando os trabalhos dos peritos do IC. Segundo as investigações, foi nesse momento que Orlando Rollo enviou um aúdio para o advogado Armôa, advogado de Evoque, o dono da cocaína desviada.

Armôa é acusado de ter intermediado as negociações entre o narcotraficante Evoque e os policiais civis acusados de desviar a droga e exigir propina. A PF acredita que foram pagos ao menos R$ 2 milhões. O narcotraficante está preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP).

"Peligro" articulou o acerto. Até hoje ninguém soube dizer onde foram parar os 790 kg de cocaína desviados. A informação que se tem é a de que a droga seria entregue no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para integrantes da facção ADA (Amigo dos Amigos), aliada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) da qual Evoque é apontado como integrante.

As polícias Civil e Federal procuram Tiago Lima Gregório, 36, motorista do caminhão que transportava a cocaína. Antes de serem presos, os investigadores disseram em depoimento que no dia da apreensão ele abandou o veículo e fugiu. No caminhão havia uma pistola Glock 9 mm e 16 cápsulas.