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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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'Tribunal do crime' do PCC torturou vítima no corredor da morte em SP

Entrada da Travessa Acalanto Brasileiro, no Jardim Dionísio, na zona sul paulistana - Google Street View
Entrada da Travessa Acalanto Brasileiro, no Jardim Dionísio, na zona sul paulistana Imagem: Google Street View

Colunista do UOL

22/03/2023 04h00

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A Travessa Acalanto Brasileiro, no Jardim Dionísio, zona sul paulistana, era um dos corredores da morte do "tribunal do crime" da maior organização criminosa do país — ao menos até 1º de janeiro de 2022, quando PMs salvaram a vida de um pedreiro de 45 anos condenado à pena capital pela facção.

O pedreiro tinha ido a uma festa em 31 de dezembro de 2021, na região do Jardim Ângela, para comemorar o final do ano. Um homem apelidado de Trem importunou uma amiga dele e ambos discutiram. Trem disse ser integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), saiu da festa e minutos depois voltou acompanhado por outros três homens, todos portando arma de fogo.

O pedreiro foi obrigado a entrar em um Honda Fit azul. Os sequestradores o encapuzaram e o levaram para um cativeiro em local ignorado.

A vítima foi agredida. Sofreu torturas físicas e psicológicas. Recebeu várias coronhadas e ouviu ameaças de morte. A festa de Révellion que o pedreiro tanto sonhara em comemorar, ao lado da amiga, virou um pesadelo.

Ele apanhou até o início do anoitecer do primeiro dia de 2022. Depois foi colocado novamente no Honda Fit azul.

Um dos criminosos disse à vítima — novamente encapuzada — que daquela vez ela seria levada para o corredor da morte. Na Travessa Acalanto Brasileiro, por volta das 19h35, o pedreiro foi retirado do veículo e obrigado a caminhar a pé até um beco.

Cinco homens o cercaram. Eram os "juízes" do "tribunal do crime" do PCC. O pedreiro foi interrogado durante alguns minutos. Segundo investigações da Polícia Civil, os criminosos queriam que ele confessasse ter ameaçado Trem para justificar a tortura e a sentença de morte.

Salvo por PMs

Para sorte do pedreiro, os PMs Isac Grigorio da Costa e Everton Henrique da Silva Oliveira, da 1ª Companhia do 37º Batalhão (Jardim Copacabana) receberam a informação de que um homem em um veículo azul estava, naquela região, em poder de integrantes do "tribunal do crime" do PCC.

A denúncia anônima dizia que o motorista do carro era um homem careca usando camisa social branca. Os policiais militares chegaram ao local e encontraram o pedreiro cercado pelos cinco criminosos. Quatro conseguiram fugir.

Os PMs decidiram ir atrás do indivíduo com as características descritas pelo informante anônimo. O homem trajando camisa social branca tentou entrar no Honda Fit azul, mas acabou detido. Ele foi identificado como Osvaldo Gomes, 55.

Quatro suspeitos foram detidos posteriormente e liberados por falta de provas. Ouvido em inquérito e em juízo, Osvaldo afirmou ser inocente. Disse que jamais integrou organização criminosa e que tinha ido à Travessa Acalento Brasileiro para se encontrar com duas garotas de programa.

No último dia 17, o juiz Thiago Baldani Gomes De Filippo, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital condenou Osvaldo a seis anos e dois meses pelos crimes de organização criminosa e tortura.

A defesa alega que ele é inocente e que não foram produzidas provas concretas que o aponte com certeza como o autor da conduta criminosa. Segundo a defesa, a vítima fugiu no dia do fato e só foi ouvida um ano depois, podendo ter confundido Osvaldo com o verdadeiro criminoso.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.