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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Ameaças, domínio em prisão e arrecadação de R$ 1 bi/ano: os 30 anos do PCC

Quatro dos fundadores do PCC: Dafé, Bicho Feio, Paixão e Eduardo Cara Gorda - Reprodução
Quatro dos fundadores do PCC: Dafé, Bicho Feio, Paixão e Eduardo Cara Gorda Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

23/03/2023 04h00

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Tudo começou dentro da prisão. Foi em 31 de agosto de 1993, quando oito presidiários custodiados pelo Estado criaram o PCC (Primeiro Comando da Capital). A fundação aconteceu na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba, tida como de segurança máxima.

Um jogo de futebol e o assassinato de dois presos selaram a criação do PCC na quadra também usada como pátio de banho de sol. A formação de um dos times, composto por criminosos da capital, deu origem ao nome da facção. A numeração 15.3.3 foi usada para designar a ordem das letras da sigla da organização no alfabeto —P corresponde ao 15 e C, ao 3.

Da fundação participaram os presos César Augusto Roriz Silva, o Cesinha; José Márcio Felício, o Geleião; Mizael Aparecido da Silva, o Miza; Wander Eduardo Ferreira, o Eduardo Cara Gorda; Antônio Carlos Roberto da Paixão, o Paixão; Isaías Moreira do Nascimento, o Isaías Esquisito; Ademar dos Santos, o Dafé; e Antônio Carlos dos Santos, o Bicho Feio.

Marco Willians Herbas Camacho, 55, o Marcola, apontado como atual líder máximo do PCC, e Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra —já falecido assim como os oito fundadores—, foram os idealizadores da criação da organização voltada, a princípio, para combater a opressão no sistema prisional.

21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, é levado para helicóptero após ser atendido em hospital em Brasília - Sérgio Lima/AFP - Sérgio Lima/AFP
21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, é levado para helicóptero após ser atendido em hospital em Brasília
Imagem: Sérgio Lima/AFP

Marcola e Sombra não participaram da fundação do grupo porque estavam trancados cada um em sua cela individual e não foram liberados para o banho de sol naquela manhã. Ambos, no entanto, articularam atrás das grades todos os movimentos visando o combate aos maus-tratos no cárcere. Os dois sempre negaram integrar a facção.

O massacre dos 111 presos da Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte paulistana, mortos pela Polícia Militar em 2 de outubro de 1992, foi o estopim e o forte motivo para a massa carcerária, comandada por Marcola e Sombra em Taubaté, se unir, se organizar e criar uma espécie de sindicato do crime para lutar contra todos os abusos na prisão.

A poucos meses de completar 30 anos de existência, o PCC nascido no cárcere cresceu assustadoramente nas prisões e nas ruas e preocupa autoridades —inclusive fora de São Paulo, pois tem ramificações em todos os Estados da Federação, conta com 112 mil membros no Brasil e possui forte presença em países da América do Sul, África e Europa.

Há quem diga que o PCC não é mais uma facção criminosa e sim um cartel de drogas com grande possibilidade de se tornar um grupo mafioso num futuro próximo. O Primeiro Comando da Capital já foi apontado como uma das maiores organizações criminosas do mundo.

Fachada da Casa de Custódia de Taubaté (SP), em dezembro de 2000 - André Nieto/Folhapress - André Nieto/Folhapress
Fachada da Casa de Custódia de Taubaté (SP), em dezembro de 2000
Imagem: André Nieto/Folhapress

Nos moldes da máfia

Segundo autoridades das forças de segurança, no Brasil o PCC vem atuando nos moldes de grupos mafiosos. A facção já comandou atentados terroristas, como assassinato de juiz em São Paulo, mortes de policiais e agentes penitenciários, sequestros e homicídios.

Os 30 anos de existência do PCC também foram marcados por dezenas de ataques a prédios públicos, inclusive com utilização de carro-bomba, rebeliões sangrentas em vários presídios brasileiros, além de ações e planos violentos para matar autoridades públicas e resgatar detentos em prisões estaduais e federais.

O tráfico de drogas é considerado a principal atividade do grupo criminoso. Cálculos do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) e da Polícia Federal indicam que o PCC fatura ao menos R$ 1 bilhão por ano só com a exportação de cocaína para a Europa via portos brasileiros.

As suspeitas são de que o PCC já lava dinheiro do narcotráfico no exterior, montando empresas de fachadas até mesmo na Europa, mais precisamente em Portugal, para onde se refugiaram dezenas de brasileiros criminosos batizados na organização.