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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Quem são os presos acusados de trocar etiquetas de malas em Guarulhos

Mala de Kátyna Baía chegando à esteira no aeroporto de Guarulhos; a bagagem foi posteriomente trocada por uma com cocaína - Polícia Federal
Mala de Kátyna Baía chegando à esteira no aeroporto de Guarulhos; a bagagem foi posteriomente trocada por uma com cocaína Imagem: Polícia Federal

Colunista do UOL

13/04/2023 04h00Atualizada em 13/04/2023 06h59

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Os seis presos pela Polícia Federal na semana passada acusados de envolvimento com o tráfico de drogas no aeroporto internacional de Guarulhos não tinham antecedentes criminais. Eles têm entre 21 e 30 anos.

Segundo investigações da PF, três deles, Pedro Henrique Silva Venâncio, 21, Pablo Thomas de Oliveira França, 24, e Eduardo Barbosa dos Santos, 30, estão diretamente envolvidos na troca de etiquetas das malas das brasileiras presas injustamente por tráfico de drogas em Frankfurt, na Alemanha — o casal de Goiânia foi solto anteontem.

Um relatório da PF diz que Pedro manipulou bagagens despachadas regularmente, retirou as etiquetas das malas das brasileiras Jeanne Paolini, 40, e e Kátyna Baía, 44, e as colocou em outras clandestinas, onde havia 40 kg de cocaína.

O documento menciona que Eduardo era o responsável pela leitura das etiquetas e consentiu a troca. Pablo seria o responsável por retirar as malas clandestinas e conduzi-las até o equipamento que levariam as bagagens para a aeronave.

Os advogados de Pedro, Pablo e Eduardo negam a participação dos clientes no esquema e afirmam que eles são inocentes. Veja mais abaixo as notas divulgadas pelos defensores. Os outros presos têm 22, 24 e 25 anos — o UOL não conseguiu localizar a defesa deles, por isso não citará os nomes dos detentos.

Dos seis presos, todos homens, cinco nasceram em Guarulhos e um na capital paulista. Uma mulher de 31 anos também é investigada. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dela. Segundo a PF, ela não foi presa, é de Guarulhos, trabalha em uma empresa aérea e é acusada de ter recebido no balcão da companhia as duas malas com os 40 quilos de cocaína e de ter colocado essas bagagens no sistema de esteira.

Mulheres são procuradas

A PF diz que a funcionária da companhia ficou no balcão durante 28 minutos e não atendeu mais ninguém. Depois foi embora. Ela recebeu a droga de duas mulheres. Ambas foram filmadas por câmeras de segurança do aeroporto. Até a publicação desta reportagem, elas não haviam sido identificadas.

Essas duas mulheres, chamadas pela PF de "passageiras fakes", ou falsas passageiras, chegaram ao aeroporto em um Renault Logan, branco, e desembarcaram no terminal 2. Uma terceira mulher, também não identificada, está na mira dos agentes federais.

Ela conversou com a funcionária que recebeu as malas com cocaína no balcão da companhia aérea. Depois foi para a área externa do aeroporto e entrou em um Ford Escort cinza e foi embora. A exemplo das falsas passageiras, ela também foi filmada pelas câmeras de segurança.

Pedro, Pablo, Eduardo e outros dois presos trabalhavam na mesma empresa que presta serviços para as companhias aéreas na aérea de voos internacionais. O sexto funcionário detido pela PF prestava serviço para outra empresa.

Todos os presos participaram de audiência de custódia. Eles foram levados para o CDP 1 (Centro de Detenção Provisória) do Belém, na zona leste paulistana.

O que dizem os advogados

Laurita de Freitas Lima e Alex Ambar Mendes, advogados de Eduardo Barbosa dos Santos, declaram que o cliente não faz parte de qualquer esquema criminoso e sempre foi tido como funcionário exemplar desde que tornou-se colaborador da empresa onde trabalhava.

A defesa diz que Eduardo, na data da prisão, desempenhava a função de auxiliar de esteira e não possuía nenhuma superioridade hierárquica sobre os demais investigados, não sendo, assim, responsável por supervisioná-los.

Segundo os advogados, Eduardo, assim como as brasileiras presas na Alemanha, é vítima de uma investigação que não cuidou de individualizar os suspeitos, indicando todos os funcionários que atuavam naquele setor, próximo às malas, como integrantes do suposto esquema criminoso.

Os defensores acrescentam que, diferentemente do que foi veiculado, o cliente não fazia uso de aparelho celular, e que no momento em que o acusam de tirar fotografias das supostas malas possuía tão somente um aparelho de escâner, utilizado como instrumento para o desenvolvimento de sua função.

A nota divulgada pelos defensores diz ainda que Eduardo está disposto a colaborar com as investigações e disponibilizou voluntariamente a senha do seu celular, para não causar óbices às investigações, e para que seja feita a coleta do material com o máximo de celeridade para provar a inocência dele.

Os advogados também declaram que estão tendo o direito de defesa cerceado, visto que até o presente momento não tiveram acesso aos autos; aparentemente por nenhuma justificativa plausível.

O advogado Yrlan Trigueiro disse acreditar na inocência de Pedro e Pablo. Ele explicou que atuou na defesa dos dois durante a operação deflagrada pela PF e na audiência de custódia. Segundo o defensor, houve inúmeras dificuldades de acesso às informações do inquérito.

Na opinião do advogado, essas dificuldades "caracterizam cerceamento de defesa e tal medida arbitrária deverá ser elidida ao longo da instrução processual, visando assim a plena defesa dos interesses dos investigados".

Yrlan Trigueiro argumentou que "a inocência dos investigados ficará provada no decorrer da instrução processual, onde restará cabalmente demonstrado que as acusações são infundadas e inverídicas, devendo prevalecer o devido processo legal e a justiça".