'PCC é uma máfia com ligações em toda a Europa', diz The Economist
Deu no The Economist. A edição semanal da revista inglesa publicou no último dia 23 uma reportagem sobre o PCC (Primeiro Comando da Capital) na seção As Américas, informando que "a maior gangue de drogas do Brasil se tornou global e agora é uma máfia com ligações em toda a Europa".
Segundo o semanário, em 2021 a Europa bateu recorde de apreensões de cocaína. Foram 303 toneladas. A revista diz que o PCC compra cocaína na Bolívia no atacado, por US$ 1.500 (R$ 7.350) o quilo, e envia a droga para a Europa, via portos brasileiros, por valores que chegam a até US$ 30 mil (R$ 147 mil) o quilo.
A reportagem cita que o PCC tem mil integrantes em Lisboa, capital portuguesa, conforme divulgou esta coluna no último dia 6, e que também está presente em ao menos seis países europeus, incluindo o Reino Unido.
A revista entrevistou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, e apurou com ele que o PCC controla 50% das exportações de drogas do Brasil para o Velho Continente e é parceiro há anos da máfia italiana 'Ndrangheta.
Expansão para a África Ocidental
Com base em um relatório recente da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, grupo sediado na Suíça, The Economist afirma que a organização brasileira, criada em 1993 nas prisões paulistas, está se expandido para a África Ocidental.
Christian Azevedo, da Polícia Federal do Brasil, também foi ouvido. Ele revelou à revista que integrantes do PCC estão presentes na Nigéria, onde "andam tranquilamente pelas ruas de Lagos e Abuja e controlam os bairros de lá, como fazem em São Paulo".
Azevedo contou que recebeu essas informações de inteligência de agentes nigerianos e que a ligação de criminosos daquele país com os faccionados do PCC ajudou o grupo a avançar para a África do Sul, um ponto-chave, segundo ele, para o envio de cocaína aos mercados emergentes da Índia e da China.
Ainda conforme a reportagem, a influência criminosa do PCC não se trata apenas de amigos poderosos ou de alcance geográfico, mas também de controles territorial e social. A revista diz que a facção "exerce um domínio que nenhum outro grupo jamais exerceu".
The Economist fez essa afirmação com base em relatos de Steven Dudley, do Insight Crime: "A gangue é um estado paralelo nas favelas brasileiras, governando a vida de milhões de brasileiros", disse o pesquisador dos Estados Unidos, especialista em crime organizado.
"Reduziu a violência em SP"
Na parte final da reportagem, a revista inglesa observa que, na década de 2000, o PCC "ordenou a redução da violência urbana e converteu São Paulo, que era uma das cidades mais perigosas do mundo, em uma das mais seguras".
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) e a Polícia Militar rebatem essa tese e sustentam que o número de homicídios vem caindo ao longo de décadas no estado graças às ações de combate ao crime, ao aumento no número de prisões e apreensões de armas e drogas e às políticas públicas.
Porém, em maio de 1997, quando a repórter Fátima Souza e este colunista revelaram a existência do PCC, as forças de segurança afirmaram que em São Paulo não havia crime organizado e a facção era, na realidade, uma ficção.
Hoje o PCC tem 30 anos, é notícia no mundo e preocupa as autoridades brasileiras. A Polícia Federal tem dezenas de equipes espalhadas pelo Brasil apenas para investigar as ações da facção paulista e de outras organizações criminais nacionais, todas geradas dentro das prisões.
Deixe seu comentário