Josmar Jozino

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Reportagem

Rivais tentaram excluir Marcola do PCC e o juraram de morte, diz relatório

Um relatório sigiloso do sistema prisional ao qual a reportagem teve acesso mostra como rivais de Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital), decidiram, dentro de uma prisão federal, expulsá-lo da facção criminosa e "decretaram" a morte dele.

Os inimigos declarados de Marcola são Roberto Soriano, 50, o Tiriça; Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka; e Wanderson Nilton de Paula Lima, 45, o Andinho. Os três integravam a cúpula da organização criminosa e estão presos na Penitenciária Federal de Brasília.

O documento secreto cita um diálogo de Vida Loka com uma visita, no parlatório da unidade prisional, em 8 de dezembro de 2023. Ele demonstra o descontentamento com Marcola, porque este último havia chamado Tiriça de psicopata.

A fala de Marcola aconteceu em 15 de junho de 2022, durante conversa com um policial penal na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) e foi gravada. O áudio foi usado no júri que condenou Tiriça a 31 anos e 6 meses pela morte de uma psicóloga da Penitenciária de Catanduvas (PR).

Na conversa com o visitante, Vida Loka deixa claro que "a rua" ou seja, todos os integrantes do PCC em liberdade, precisavam saber o que Marcola havia dito sobre Tiriça.

Segundo consta no relatório, no dia 10 de fevereiro deste ano, Vida Loka cumpriu uma determinação de Tiriça e passou um "salve" — comunicado — para os presos da ala D da unidade sobre o conteúdo da gravação do diálogo entre Marcola e o agente penal de Porto Velho.

Vida Loka manifestou apoio total a Tiriça e acrescentou estar do lado dele. O relatório aponta que os novos inimigos de Marcola o acusaram de "cagueta, traição e fraqueza" e anunciaram a exclusão dele da maior facção criminosa do Brasil.

Reverteu a situação

No dia 11 de fevereiro outro "salve" foi passado para os internos da Penitenciária Federal de Brasília. Dessa vez, os rivais "deixam ciente que Marcola e todos aqueles que estiverem ao lado dele e vierem a apoiá-lo serão igualmente decretados" (mortos).

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O documento indica que, até 1º de março, o Setor de Inteligência do sistema prisional (ligado ao governo) aguardava informações de um retorno da rua, sobre o "decreto" contra Marcola, que "possivelmente já teria revertido a situação e que atualmente quem estariam decretados e expulsos do PCC eram Tiriça, Vida Loka e Andinho".

E foi exatamente o que aconteceu. Segundo o Ministério Público de São Paulo, a "sintonia final" — cúpula — do PCC ouviu o áudio e concluiu que Marcola não fez nada de errado. A cúpula divulgou um comunicado informando que o trio estava excluído da organização e jurado de morte por calúnia e traição.

O "salve" tornou-se público. Para as autoridades carcerárias, o PCC, após o racha declarado entre Marcola e os novos inimigos vive uma das maiores crises da história em seus 30 anos de existência.

Os advogados de Marcola. Tiriça, Vida Loka e Andinho não querem se manifestar sobre o assunto nem sobre o racha no PCC e alegam que falam apenas sobre as situações processuais de seus clientes.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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