Clinton ataca Trump: 'Piorou pandemia e só sabe culpar e fazer bullying'
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Rompendo a tradição de ex-presidentes de não criticar quem está dando plantão na Casa Branca, o democrata Bill Clinton (1993-2001) atacou Donald Trump na noite de terça-feira na mesma linha adotada pela ex-primeira-dama Michelle Obama um dia antes.
Clinton disse que a pandemia "atingiu [os EUA] muito mais duramente do que deveria" porque Trump ignorou os cientistas e gastou seu tempo vendo TV e atacando as pessoas nas redes sociais.
"Num tempo como esse, o Salão Oval [escritório do presidente] deveria ser um centro de comando, mas virou um centro de tempestades. Há apenas caos. (...) Apenas uma coisa nunca muda, a determinação dele [Trump] de negar responsabilidade e transferir culpa", disse Clinton.
Segundo Clinton, a economia foi afetada negativamente pela forma como Trump lida com a pandemia. O ex-presidente afirmou que os eleitores sabem o que o atual presidente fará pelos próximos quatro anos. "Culpar, fazer bullying e menosprezar". Ele disse que Joe Biden fará outra coisa nesse período: "Construirá de novo e melhor [a economia e o país]".
Biden, aliás, foi oficializado na noite desta terça como candidato a presidente numa votação cujos resultados foram tediosamente apresentados ao longo da transmissão da convenção via internet e pela TV. Ao final da escolha, surgiram na tela Biden e a mulher, Jill, aplaudidos virtualmente pelos delegados e presencialmente por alguns familiares.
Num trecho que invocou a memória do filho Beau, que morreu de câncer aos 45 anos, mas sobreviveu a um acidente de carro na infância porque teve bom atendimento hospitalar, Biden afirmou que cumpriria a promessa de criar um plano de saúde acessível a todos os americanos. Ele apareceu interagindo com cidadãos que contaram suas dificuldades para obter tratamento médico. Biden prometeu cuidar do tema como se fosse para a sua própria família.
Ocasio-Cortez não cita Biden e defende Sanders
Na segunda noite de transmissão de discursos virtuais, a Convenção Nacional Democrata abusou da fragmentação. A ideia de mostrar diversidade, que é boa, foi mal executada. O começo teve uma série de falas de democratas de várias partes do país. Ficou mal costurado o recado de que Biden uniria os Estados Unidos e enfrentaria a pandemia e os problemas econômicos melhor do que Trump. O resultado foi muito ruído, o que incentivou a dispersão nessa parte do programa.
Um dos discursos mais esperados da noite foi o da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, a AOC. Ela não citou Biden e defendeu que o senador Bernie Sanders fosse o indicado para concorrer à Casa Branca.
Insatisfeita com o destaque a republicanos, moderados e conservadores na Convenção Nacional Democrata, ela demarcou terreno e agradeceu aos jovens que lutaram para que a legenda tivesse um candidato progressista como Bernie Sanders. Ficou para o futuro. Ela própria é uma aposta dos progressistas para alçar voos mais altos do que representar o Estado de Nova York na Câmara dos Deputados. Por isso, deveria ter recebido mais espaço na convenção.
Logo no começo, houve fala interessante de Sally Yates, ex-procuradora-geral interina no governo Trump. Ela deu depoimento sobre a recusa a endossar medidas contra entrada de mulçumanos nos EUA. Trabalhou com Trump e foi demitida por contrariá-lo. Defendeu Biden. Disse que país precisa de presidente que "restaure a alma da América", um bordão do democrata.
Ex-secretário de Bush promove candidato democrata
John Kerry, ex-secretário de Estado de Obama, lembrou que trabalhou com Biden para construir maior respeito pelos Estados Unidos no planeta. Mas afirmou que, "como tudo que ele herdou", Trump destruiu o que recebeu.
Colin Powell, que foi secretário de Estado do governo do republicano George W. Bush durante a guerra do Iraque, também falou no encontro democrata. Powell disse que Biden tinha mais preparo do que Trump para comandar o país e enfrentar crises internacionais.
A amizade entre Biden John McCain, senador republicano e prisioneiro americano durante anos na guerra da Vietnã, foi mencionada como uma parceria entre diferentes. McCain, que perdeu para a dupla Obama-Biden em 2008, morreria dez anos depois. Biden e ele continuaram amigos.
Biden faz declaração de amor à mulher
No final do programa, houve uma parte mais intimista e bonita de ver, na qual Biden e a esposa Jill falaram do início do namoro. Ele era um viúvo com dois filhos. Ela disse não cinco vezes ao pedido de casamento, mas enfim aceitou. Estão juntos há 45 anos.
Professora que lecionou inglês nos oito anos em que Biden foi vice-presidente, ela voltou à sala de aula para fazer seu discurso, ressaltando que o marido tinha "a liderança" necessária para o momento. Falou que estava de "coração partido" com as mortes de americanos na pandemia e que entendia a preocupação das famílias com as crianças.
Jill disse que não imaginava o que fazer, com 27 anos, "para tornar inteira uma família quebrada". Foi uma menção ao acidente que matou a primeira mulher de Biden, Neilia, e sua filha Naomi, que tinha apenas 13 meses. Beau e Hunter sobreviveram. Chamado de "filho" por Jill, Beau morreria de câncer em 2015. Ela assumiu grande responsabilidade ao entrar na vida de Biden.
"Os desafios que enfrentamos são pesados. (...) Joe [Biden] fará por sua família o que fez pela nossa", disse ela.
"Vocês podem ver porque ela é o amor da minha vida", disse um carinhoso Biden, logo após a fala de Jill, abraçando-a no fim do programa, que começou morno, mas terminou com emoção e empatia.
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