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Trump faz aposta arriscada eleitoralmente ao enviar tropas contra protestos

Policiais durante terceira noite de protestos em Kenosha, em Wisconsin - Scott Olson/Getty Images/AFP
Policiais durante terceira noite de protestos em Kenosha, em Wisconsin Imagem: Scott Olson/Getty Images/AFP

Colunista do UOL

26/08/2020 15h22

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A decisão de enviar a Guarda Nacional para conter protestos na cidade de Kenosha, em Wisconsin, é uma aposta arriscada do presidente Donald Trump a pouco mais de dois meses das eleições de 3 novembro. O figurino de presidente da "lei e da ordem", como escreve o republicano nas redes sociais, deu errado no meio do ano.

"HOJE, enviarei tropas federais e a Guarda Nacional para Kenosha, WI [no estado de Wisconsin], para restaurar a LEI e a ORDEM", postou Trump no Twitter na tarde desta quarta-feira, após conversar com o governador Tony Evers, do Partido Democrata. Trump disse que não aceitaria "saques, incêndios, violência e ilegalidades nas ruas americanas".

Em junho, quando optou por reprimir manifestantes em Washington com forças federais, Trump caiu nas pesquisas. Perdeu popularidade e viu o democrata Joe Biden ampliar a dianteira nos levantamentos a respeito da disputa presidencial. A pandemia já havia colocado Biden à frente de Trump nas pesquisas.

Naquela época, os protestos contra o racismo estrutural e a violência policial foram desencadeados pela morte de George Floyd em 25 de maio. Em Kenosha, há protestos semelhantes deflagrados por uma ação policial que resultou em mais um ato policial de violência extrema e desproporcional contra um homem negro.

Ao entrar no carro no domingo, 23 de agosto, Jacob Blake, 29, foi seguido por policiais e acabou alvejado com sete tiros pelas costas. Segundo sua família, Blake está com os movimentos paralisados da cintura para baixo.

A virada de terça para quarta-feira foi a terceira noite seguida de protestos em Kenosha. Estabelecimentos comerciais e prédios públicos foram depredados. Houve confronto entre a polícia e manifestantes. Duas pessoas morreram e uma terceira ficou gravemente ferida.

Trump venceu Hillary por menos de um ponto percentual no estado

A polícia diz que houve reação de uma milícia de homens brancos fazendo a vigilância de um posto de gasolina. Um menor de 17 anos de idade foi apreendido na tarde desta quarta-feira, sob suspeita de ter sido o atirador que matou pelo menos uma pessoa. De acordo com a lei de Wisconsin, o menor pode ser julgado como adulto. Ele teria usado um rifle semiautomático.

Wisconsin é um dos estados fundamentais para que um presidente vença no Colégio Eleitoral. Trump derrotou Hillary Clinton no estado por apenas 0,77 ponto percentual.

O estado, cuja força econômica é centrada no agronegócio, especialmente na indústria de laticínios, tem sido duramente disputado por Biden e Trump na atual corrida eleitoral. Na média de pesquisas recentes, Biden tem uma vantagem de apenas 3,5 pontos percentuais. Wisconsin é um típico estado onde os subúrbios americanos tradicionais são importantes nas eleições.

Se der certo, Trump pode virar o jogo num estado que possui 10 votos no Colégio Eleitoral de 538 delegados. Numa disputa apertada, pode fazer a diferença. Se a jogada de Trump não funcionar, ela poderá voltar a reacender protestos em âmbito nacional contra o racismo estrutural e a brutalidade policial que vitima mais os negros do que os brancos.

Na Convenção Nacional Republicana, que começou na segunda e vai até esta quinta, os republicanos têm discursado com foco no eleitorado branco, numa tentativa de estancar a perda de apoiadores conservadores para o democrata. Segundo a maioria dos oradores, uma vitória democrata implantaria o socialismo nos EUA e aumentaria a violência nas grandes cidades e nos subúrbios do país.

A decisão de enviar tropas federais ao Wisconsin combina com a estratégia eleitoral de Trump, que dobra a aposta na repetição do roteiro político que o elegeu quatro anos atrás.