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Presidenciáveis republicanos para 2024 "surfam" tumulto para herdarem votos

JOE RAEDLE/AFP
Imagem: JOE RAEDLE/AFP

Colunista do UOL

10/11/2020 14h13

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Está sendo travada nos bastidores do Partido Republicano uma luta para ver quem será o herdeiro do trumpismo sem Trump. Isso ajuda a explicar por que republicanos, mesmo sabendo que Donald Trump foi derrotado por Joe Biden, endossam o negacionismo eleitoral do presidente.

O presidente se recusa a reconhecer a vitória de Biden e tomar medidas concretas para transição, criando a possibilidade de caos administrativo até a posse em 20 de janeiro.

Os senadores republicanos Ted Cruz, Marco Rubio e Tom Cottom, todos com menos de 50 anos de idade, desejam ser candidatos a presidente em 2024 com apoio da base trumpista. Os três formam uma espécie de primeiro pelotão na bolsa de apostas para concorrer à Casa Branca daqui a quatro anos pelo Partido Republicano.

O trio Cruz, Rubio e Cotton adota o discurso de que o atual presidente tem o direito de tentar obter na Justiça uma reversão do resultado eleitoral. Aceitam a atitude de mau perdedor de Trump porque sabem do poder de fogo dele junto à base republicana.

Por isso, evitam se chocar com um presidente agressivo e popular na base eleitoral. Trump foi a segunda pessoa mais votada para ocupar a Casa Branca na história das eleições, apesar de ter perdido para Biden.

Segundo a apuração, Biden recebeu até esta terça-feira 76,2 milhões de votos nacionalmente, com 50,7% do total. Trump tem 72,6 milhões (47,6%). A contagem continua. O democrata obteve maioria no Colégio Eleitoral e barrou a escalada autoritária vivida no país.

Os nomes republicanos que despontam

Ted Cruz, 49 anos, filho de pai cubano, fez carreira no Texas. Evangélico, é um dos senadores mais conservadores dos Estados Unidos, com posições contrárias ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. É forte defensor do ativo lobby pró-armamento.

Na pré-campanha do Partido Republicano em 2016, Trump e Cruz trocaram acusações. Trump disse que, por ter nascido no Canadá, Cruz não poderia disputar as eleições. Na época, ele também questionou a fé de Cruz. Quando se elegeu presidente e se reconciliou com o senador texano, Trump deixou de chama-lo de "Mentiroso Ted" nas redes sociais e passou a se referir a ele como "Lindo Ted".

Também com origem cubana, Marco Rubio, 49 anos, é um ativo senador da Flórida. Conservador católico, tentou disputar a Presidência em 2016 e saiu do jogo depois de perder a primária no seu estado. Ele já acusou Trump de racismo e discordou da forma como o presidente conduziu a relação com a China.

No entanto, reaproximou-se de Trump. Ao longo do mandato, o atual presidente deu muito poder ao conservador Rubio para influenciar a política externa em relação à América Latina. Rubio é forte crítico da Venezuela e de Cuba.

Veterano de guerra

Senador pelo Arkansas, Tom Cotton, 43, serviu nas guerras do Afeganistão e do Iraque. Neste ano, durante os protestos contra a violência policial do movimento "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam"), ele negou a existência de racismo sistêmico nos EUA e defendeu o uso das Forças Armadas para reprimir manifestantes. Tem posições bem conservadoras em política externa, alinhadas aos interesses da indústria militar. Possui boa relação com Trump.

Além dos três, há outros nomes com menos chances aos olhos de hoje que sonham com o espólio eleitoral de Trump, como o vice-presidente Mike Pence, derrotado junto com o chefe, e os filhos do presidente Ivanka Trump e Donald Trump Junior. O jovem senador conservador Josh Hawley, do Missouri, é outro queridinho da base trumpista.

Trump terá 78 anos na época das eleições em 2024. Há processos e investigações em curso que poderão tirá-lo do páreo, bem como as dificuldades de seu grupo empresarial. Dificilmente conseguirá concorrer, mas legalmente poderia tentar a Casa Branca mais uma vez. O trumpismo, porém, deverá durar para além de sua Presidência.

Geórgia terá "segundo turno" para o Senado

Há políticos republicanos importantes, como o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, que fazem outro cálculo político além de ficar nas boas graças de Trump. McConnell, que se reelegeu pelo estado do Kentucky, está preocupado em manter a hegemonia republicana no Senado.

As duas vagas do estado da Geórgia no Senado serão disputadas em nova eleição no dia 5 de janeiro. Se os democratas ganharem as duas vagas, chegariam a 50 senadores, exatamente a metade, mas contariam com o voto de Minerva (quando há empate) da futura vice-presidente Kamala Harris, como prevê a lei americana.

Logo, manter a base republicana mobilizada com a falsa narrativa de roubo eleitoral ajudaria os republicanos a tentar reassegurar essas duas vagas da Geórgia no Senado.

Detalhe: alguns republicanos importantes, como o senador Mitt Romney, de Utah, e o ex-governador de Ohio John Kasich, reconheceram a vitória de Biden. Mas, até agora, são minoria no partido.