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Leonardo Sakamoto

Com SP fechada, Covas vai ao Maracanã, assim como Doria foi a Miami

Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo, marca presença no Maracanã na torcida pelo Santos - UOL
Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo, marca presença no Maracanã na torcida pelo Santos Imagem: UOL

Colunista do UOL

31/01/2021 01h50

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Enquanto Palmeiras e Santos jogavam a final da Copa Libertadores da América, neste sábado (30), cerca de 2,5 mil convidados de ambos os times e da organização do evento aglomeravam-se num setor do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Entre eles, Bruno Covas, prefeito de São Paulo, que está de licença médica para tratamento de saúde.

No mesmo sábado, o Brasil registrou, pelo décimo dia consecutivo, média móvel de óbitos por covid-19 acima de mil, totalizando 223.971 brasileiros mortos.

E enquanto o tucano assistia seu time, o Santos, perder por 1 a 0, a cidade que governa passava o final de semana na fase vermelha de reabertura de atividades econômicas por ordem de seu correligionário e padrinho político, João Doria. Nessa fase, só é permitido o funcionamento de setores essenciais - o que exclui público em jogos de futebol.

Segundo a Conmebol, todos os convidados foram obrigados a mostrar exames negativos para covid-19 feitos até 96 horas antes. Infectologistas afirmam que isso não é garantia de um "passaporte imunológico para aglomeração", uma vez que, nas primeiras 72 horas, o teste tem menos sensibilidade. Há chance de dar negativo mesmo estando doente e transmitir aos demais, ainda mais em uma arquibancada lotada.

Covas estava de máscara, mas grande parte dos torcedores não. As imagens mostram que pouco adiantou o serviço de som do estádio pedir para manterem distanciamento e usarem a proteção.

O prefeito foi duramente criticado nas redes sociais pelo mau exemplo dado (afinal, ele é o administrador de uma cidade fechada por razões sanitárias), pela falta de solidariedade com milhares de moradores da capital paulista (que não podem fazer o mesmo que ele fez por conta da pandemia), pelo ato incoerente quando se pede sacrifício à população e pelo fato de ter se vendido como um contraponto racional ao terraplanismo biológico do presidente da República e do ministro da Saúde.

Isso lembra quando o próprio João Doria endureceu as regras do isolamento social em São Paulo e foi para Miami, em dezembro, afirmando que havia trabalhado bastante em 2020 e sacrificado o convívio familiar. Como se os brasileiros, principalmente os que estão na linha de frente do combate à pandemia, não merecessem um descanso também. Muitos, inclusive, sacrificaram a própria vida ao proteger a dos outros.

Mesmo que tenha voltado correndo quando o caso degringolou nas redes sociais (usando como justificativa o teste positivo para covid do seu vice) e pedido desculpas, já era tarde. Ele havia cometido um dos piores erros para políticos, passando a imagem de hipocrisia.

Vale lembrar que, ignorando as recomendações de especialistas, de que era necessário endurecer as regras da quarentena ao longo de novembro por conta do salto na ocupação de UTIs por pacientes com covid-19 em hospitais públicos e particulares, o governador esperou para fazer isso apenas em 30 de novembro - dia seguinte à reeleição de seu aliado, Bruno Covas. Armou-se a primeira bomba-relógio, que acabou explodindo no final do ano.

A segunda, das aglomerações das festas de Natal e Reveillón, começou a fazer seus mortos e feridos 15 dias depois.

A questão aqui não é moralismo, nem demagogia. A população tem direito de preferir um político que sinta empatia e entenda que liderança se dá pelo exemplo, não pelo comando. E solidariedade não é dizer que sente muito pela pandemia, mas mostrar que estamos todos juntos no barco. E que, quando ele afunda, afundamos todos.