Leonardo Sakamoto

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Opinião

Operação sobre espionagem atinge candidato de Bolsonaro à Prefeitura do Rio

Operação da Polícia Federal sobre espionagem ilegal, nesta quinta (25), que cumpre mandados de busca e apreensão contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sob Jair, volta a complicar os planos bolsonaristas para que ele enfrente Eduardo Paes (PSD) na disputa da Prefeitura do Rio neste ano. Corre o risco do seu nome chegar pesado, carregado de BOs em outubro.

De acordo com Aguirre Talento, do UOL, a busca inclui os gabinetes de Ramagem na Câmara dos Deputados e em seus endereços residenciais. Na mira, o uso de um programa espião que permite o monitoramento do deslocamento de pessoas através de seus celulares. Ele teria sido usado ilegalmente contra jornalistas, políticos, servidores públicos e adversários do governo passado em geral.

Também são alvo sete policiais federais e três servidores da Abin. A operação Última Milha, da Polícia Federal, já havia prendido, em 20 de outubro, servidores e afastou um membro da cúpula da Abin na investigação sobre o uso desse sistema secreto durante os três primeiros anos de Bolsonaro.

Na época, a instituição era gerida por Ramagem. Ele chegou a afirmar, nas redes sociais, que a investigação da PF era consequência do "trabalho de austeridade" promovido pela sua administração.

Contudo, reportagem do UOL, cinco dias depois, apontou que o hoje deputado havia barrado a demissão de dois servidores da Abin investigados por fraude em licitação. A PF analisa se Ramagem teria sido chantageado por eles usando as informações sobre o uso do software para espionagem ilegal, o First Mile. Em suma, uma sacanagem sendo usada para acobertar outra sacanagem.

Próximo do clã Bolsonaro, o deputado é, hoje, pré-candidato à Prefeitura do Rio, em 2024, com o apoio do ex-presidente e de seus filhos.

"Não acredito que o Ramagem esteja envolvido nisso [espionagem]. Ramagem é um policial sério e ele seria o ideal para ir para a Prefeitura do Rio de Janeiro", disse Valdemar Costa Neto, em entrevista ao SBT, no dia 24 de outubro.

A posição do presidente do PL sobre a candidatura chegou a ser outra. No dia 5 de outubro, após a morte de três médicos, um deles, o irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), em um quiosque na Barra da Tijuca, ele defendeu Braga Netto para a disputa. "É um dos motivos que o Rio vai querer o Braga Netto", disse, segundo Lauro Jardim, em O Globo.

O cacique do PL mudou de opinião no mesmo momento em que os direitos políticos do general foram para o vinagre. E em 31 de outubro, ele e Bolsonaro foram condenados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por usar as comemorações do Bicentenário da Independência, em Brasília e no Rio, pagas com dinheiro público, em uma micareta de campanha de ambos.

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Walter era candidato a vice na chapa de Jair. Com isso, ele está inelegível até 2030, fortalecendo o caminho de Ramagem para ser o representante do bolsonarismo.

Isso se o caso do software espião não feder ainda mais. A lista dos espionados ilegalmente pelo governo Bolsonaro com o sistema ainda não veio a público, mas a depender da força da relação dos nomes, como Gilmar Mendes, ministro do STF, ou governadores, pode colocar água de vez no chope de Ramagem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL