Maioria de eleitores de Bolsonaro apoia ataque de Lula a juros, diz Quaest
A maioria da população está ao lado de Lula, e não dos atores e analistas do mercado financeiro, nas críticas à política do Banco Central, que tem mantido elevada a taxa básica de juros. Pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta (10), mostra que 87% concordam quando Lula diz em entrevistas que os juros estão muito altos.
Mais que isso: 66% também chancelam suas críticas aos juros, enquanto 23% discordam delas. O apoio à posição do petista ocorre mesmo entre a maioria dos que votaram em Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2022: 51% dos eleitores de seu adversário apoiam as críticas aos juros, enquanto 36% discordam. Já entre quem votou em Lula, 77% concordam com as críticas e 16%, discorda.
Os dados do levantamento da Genial/Quaest ecoam as pesquisas internas à disposição do Palácio do Planalto que avaliam a opinião da população. Lula sabia que suas críticas aos juros não tinham apoio de muita gente no mercado financeiro, mas que recebiam o respaldo do grosso da população e do setor produtivo, na indústria, na agropecuária, no comércio e nos serviços.
Tanto que 67% dos entrevistados concordam quando Lula diz que o governo não deve satisfação ao mercado, mas aos mais pobres. Ou quando ele defende medidas de proteção social que vão no sentido contrário das demandas de determinados atores econômicos pelo corte de gastos, como o aumento do salário mínimo acima da inflação (90% de apoio) - tema em que ele foi incisivo na entrevista que concedeu ao UOL no último dia 26.
E 53% dizem que não acreditam que as declarações de Lula (com críticas à política de juros do Banco Central e na defesa que gastos com educação, saúde, previdência e benefícios sociais fiquem fora de cortes para o ajuste fiscal) foram a principal razão para a alta recente do dólar. Outros 34% apontam que sim, foram as responsáveis.
Neste caso, o eleitorado se divide: 66% dos que votaram em Lula dizem que ele não teve culpa e 35% dos que foram com Bolsonaro acreditam na mesma coisa.
A pesquisa mostra uma melhora na aprovação do trabalho do presidente Lula, que foi 50% para 54%, de maio a julho, enquanto a desaprovação caiu de 47% para 43%. A margem de erro é de dois pontos. A avaliação do governo também melhorou: a positiva foi de 33% para 36% e a negativa, de 33% para 30%.
Um dos pontos que ajuda a explicar isso é o poder de compra. A avaliação de que o preço dos alimentos parou de subir e começou a cair foi registrada pela pesquisa. Em agosto do ano passado, 37% avaliavam que o preço da comida nos mercados havia subido no último mês. A taxa chegou a 73% em fevereiro deste ano e ficou estável em maio. Agora, está em 70%.
E o total dos que avaliam que o poder de compra piorou de um ano para cá caiu de 67% para 63%, enquanto os que acham que melhorou oscilou de 19% para 21%.
O governo sabe que não adianta alta no PIB, crescimento na renda média dos trabalhadores e queda na taxa de desemprego se isso vem com inflação na comida, que foi mais alta que em outros setores e atinge especialmente os mais pobres. Como disse a saudosa economista Maria da Conceição Tavares, o povo não come PIB, come alimentos.
Por exemplo: o preço do arroz subiu quase 30% nos últimos 12 meses, de acordo com o IPCA — e isso nem considera o impacto da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, maior estado produtor. A alta nos preços dos alimentos básicos preocupa o governo, porque sabe que isso atinge a popularidade.
Agora, a pesquisa pode estar sugerindo que o pior já passou. Mantendo o ritmo de percepção de melhora no poder de compra, Lula pode chegar nas eleições com mais força como cabo eleitoral, além de melhorar seu poder de barganha com o Congresso Nacional.