Após broncas, candidatos isolam ataques de Marçal - que promete vingança
A mediadora Amanda Klein foi fundamental para o debate da RedeTV/UOL. No momento em que Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) trocavam gritos no primeiro bloco, ela segurou a peteca e prometeu mandar marmanjo para fora, evitando que a confusão estabelecida no último debate, que culminou com a Revolta das Cadeiras, se repetisse.
O prefeito, talvez percebendo que precisava se impor sobre Marçal, pois disputam o mesmo público bolsonarista, fez a dobradinha de descontrole. Foi orientado por seus assessores no intervalo a reduzir a temperatura.
No segundo bloco em diante, os candidatos reduziram significativamente o número de vezes que caíam em provocações e aumentaram o tempo em que apresentavam propostas. Isso criou dificuldade ao ex-coach, que já disse que vai a debates e sabatinas para produzir cortes de vídeos.
Mas também para a candidata Marina Helena (Novo), que fez uma acusação bisonha contra Tabata Amaral (PSB), de que ela visitaria seu namorado, o prefeito de Recife, João Campos (PSB), de jatinho. Tabata negou, avisou que a processaria, mas aproveitou o tempo de sua resposta para falar de propostas.
Não à toa, houve uma queda na audiência do YouTube da transmissão do UOL após os candidatos pararem de cair nas provocações de Marçal: ela havia ultrapassado 300 mil pessoas simultaneamente e desceu para 250 mil. Muito provavelmente saiu o público que estava interessado apenas no bizarro. Ficou mais "chato" nas palavras de quem vê debate como entretenimento de baixa qualidade.
Mas quem disse que construir uma cidade melhor é engraçado e divertido o tempo todo? Isso pode fazer com que o encontro, e os vídeos com recortes que serão produzidos e distribuídos nas redes a partir dele, não leve a nenhuma alteração nas posições dos candidatos.
Apesar de ainda estar longe de ser um espaço de qualidade para discutir os problemas da nossa cidade (porque não foi), o debate mostrou um caminho para isolar o discurso voltado apenas à lacração. Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral, que mostraram muito mais calma diante dos ataques, merecem destaque. José Luiz Datena (PSDB) também evitou cair na maioria dos gatilhos espalhados pelo ex-coach, o que mostrou preparação.
Por fim, Marçal investiu bastante na ideia de que o primeiro turno será a hora de uma "vingança" dos eleitores. Repete em uma arte nas suas redes a estética de "V de Vendetta", uma famosa graphic novel que inspirou o filme "V de Vingança". Ironicamente, o anti-herói V, um justiceiro anarquista, criado por Alan Moore e David Lloyd, é contra a força do Estado totalitário, mas também contra religiosos que usam seu poder para se locupletar.
Na vingança de Marçal cabe muita coisa.
Marçal foi criticado por parte de seus seguidores por ter se vitimizado demais após a cadeirada. Precisava dar uma resposta. E, segundo ele, a vingança será nas urnas. Metonimicamente, propõe que a agressão que sofreu seja vista como uma agressão contra todos que o seguem ou que concordem com ele. Ou seja, é uma vingança contra o sistema. Busca, dessa forma, salvar os votos bolsonaristas que, segundo a pesquisa Datafolha, migraram para Ricardo Nunes na última semana.
Mas também vingança contra aquele que ele vê como seus adversários. E quem são? Os que impedem que ele promova mentiras e a intolerância sem limites, os que não se solidarizam quando ele compara a cadeirada que levou com a facada contra Bolsonaro, os que discordam dos seus métodos. Ou seja, na vingança de Marçal cabe muita coisa, mas talvez fique de fora a democracia.