Vexame de Bolsonaro no 2º turno e eleição na Câmara esfriam anistia a golpe
Com receio de perder votos governistas para o seu candidato à Presidência da Câmara de Deputados, o presidente Arthur Lira (PP-AL) pôs um freio no trâmite da proposta que anistia golpistas do 8 de janeiro de 2023, projeto que pode beneficiar o próprio Bolsonaro. Mas não é só isso. Com a derrota de Jair no segundo turno nas capitais, por que partidos políticos vão se arriscar a defender alguém que nem consegue ser um bom cabo eleitoral?
Com o PT como fiel da balança entre os candidatos à sua sucessão, Lira retirou a proposta da Comissão de Constituição e Justiça, que seria votada hoje, e voltou à estaca zero com a criação de uma comissão especial, como informa Victoria Azevedo, da Folha de S.Paulo. Ganha tempo, evitando bater de frente com um lado e outro.
Mas se o ex-presidente tivesse sido o grande vencedor no segundo turno das eleições, neste momento, mais parlamentares estariam atuando de forma a garantir que ele não seja processado, condenado e preso por atentar contra a democracia e, principalmente, sua inelegibilidade, declarada pelo TSE, pudesse ser derrubada. Não por seus olhos azuis, mas sua capacidade de eleger aliados.
Ele, contudo, foi o grande derrotado do domingo nas capitais brasileiras. Dos candidatos que abraçam o autointitulado mito, apenas o fanfarrão Abilio Brunini venceu em Cuiabá. Perdeu em Belém, com Éder Mauro, em Curitiba, com Cristina Graeml, em João Pessoa, com o Marcelo Queiroga, em Manaus, com o Capitão Alberto, em Palmas, com Janad Valcari, em Porto Velho, com Mariana Carvalho, em Goiânia, com Fred Rodrigues, em Fortaleza, com André Fernandes, em Belo Horizonte, com Bruno Engler.
Emília Correa (PL) venceu em Aracaju, mas apesar de alinhada às características do bolsonarismo, não grudou em Jair na campanha. Já a vitória de Ricardo Nunes, em São Paulo, não entra na conta de Bolsonaro. Quem discorda, basta perguntar para o próprio prefeito reeleito o que ele acha da lealdade do ex-presidente.
O centrão, após vencer a esquerda no primeiro turno, ganhou do bolsonarismo no segundo. Isso mostra não apenas a força das emendas parlamentares encaminhadas pelo Congresso Nacional às suas bases, mas também coloca em xeque Bolsonaro como o grande cabo eleitoral da direita. Já Lula tem a máquina e a lâmina da Justiça não pesa contra ele.
Com Jair inelegível por oito anos, nomes da direita questionam a sua hegemonia. Bateu de frente com os presidenciáveis Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior e perdeu, viu Tarcísio de Freitas ascender e ele submergir em São Paulo, botou o rabo entre as pernas diante de um Pablo Marçal que mostrou que o rebanho da extrema direita pode se encantar por outro berrante (sendo apoiado por deputados bolsonaristas, inclusive) e é questionado até dentro do PL.
Na política, importa a perspectiva futura de poder. O que Bolsonaro tem cada vez menos.