Topo

Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Contas de Lula nas redes falam sobre pessoas que menstruam

2.jun.2023 - Presidente Lula participa de inauguração de fábrica de ônibus elétricos da Eletra, em São Bernardo do Campo (SP) - 2.jun.2023 - Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo
2.jun.2023 - Presidente Lula participa de inauguração de fábrica de ônibus elétricos da Eletra, em São Bernardo do Campo (SP) Imagem: 2.jun.2023 - Ettore Chiereguini/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

26/06/2023 20h40

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Este final de semana, as redes sociais de Lula levantaram polêmica inclusive entre a militância do presidente ao falar em "pessoas que menstruam". A expressão foi utilizada para anunciar a publicação dos critérios do programa de dignidade menstrual do Ministério da Saúde. Foram centenas de comentários questionando por que o presidente não usou a palavra mulheres em nenhum momento do fio.

"O governo federal publicou nesta semana os critérios para o programa de dignidade menstrual, que garantirá absorventes gratuitos a cerca de 24 milhões de pessoas. Uma medida de saúde pública e de garantia da cidadania para milhares de pessoas que menstruam #EquipeLula", diz a postagem.

O decreto 11.432/2023, que estabelece o programa de dignidade menstrual, foi assinado no último dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres.

O uso da expressão "pessoas que menstruam" virou uma disputa acalorada na militância de universo simbólico. A justificativa é que seria uma forma de incluir homens trans e pessoas não binárias.

Em nome dessa suposta inclusão por meio do controle da linguagem, cuja efetividade jamais foi demonstrada na prática, são justificadas todas as ações violentas contra mulheres que não queiram ser assim denominadas.

O caso mais emblemático no Brasil é o da professora da UFMG, Mara Telles, mulher de esquerda e feminista clássica. Escrevi em detalhes sobre o ocorrido, que envolve delírios perversos e ameaças, no dia 23 de março deste ano. A contragosto, ela enfrenta agora uma batalha judicial simplesmente porque reivindicou o direito de ser chamada de mulher, não pela expressão etarista, machista e utilitarista "pessoas que menstruam". Muitas pessoas responderam ao presidente pedindo que falasse das mulheres. Entre eles, obviamente havia vários opositores, inclusive alguns muito agressivos. Ocorre que também havia a militância feminina de Lula, que não tem visto grandes avanços em suas pautas.

A própria ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi alvo de fritura durante todo o final de semana. O centrão está de olho no cargo dela.

Esse bloco político tem uma ministra, Daniela do Waguinho, que está prestes a ser trocada pelo deputado Celso Sabino. Ela mudou o nome para Daniela Carneiro, mas a alcunha usando o nome do marido é autoexplicativa da visão sobre o papel da mulher. Aliás, foi o marido quem mais falou sobre o cargo dela e chegou a negociar diretamente com o governo. Imagine se a mulher de algum ministro teria esse tipo de interlocução.

Marina Silva, a ministra mais simbólica do governo, cuja história de vida se confunde com a pauta ambiental brasileira, teve seu poder esvaziado numa negociação recente. A primeira indicação para o Supremo Tribunal Federal frustrou parte da militância por ser um homem branco.

Resta saber como o próprio presidente se posicionaria. Lula diria "pessoas que menstruam" ou mulheres? Difícil saber. Em outubro do ano passado, durante uma entrevista ao podcast Flow, o então candidato disse que "eles são capazes de dizer que você nasceu mulher e depois virou homem, eles são capazes de dizer que vaca voa, eles são capazes de dizer que cavalo tem chifre". Fosse outra pessoa, o cancelamento por transfobia seria certo.