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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

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Apresentadores do JN ocuparam 37% do tempo da entrevista com Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro durante entrevista a William Bonner e Renata Vasconcellos no JN - Reprodução/TV Globo
O presidente Jair Bolsonaro durante entrevista a William Bonner e Renata Vasconcellos no JN Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

23/08/2022 09h27

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A ironia do presidente Jair Bolsonaro, que chamou a entrevista no "Jornal Nacional" de "pronunciamento de Bonner", justifica-se pelo tempo excessivo que os apresentadores do telejornal ocuparam com as perguntas (a íntegra da conversa pode ser lida aqui).

Levantamento do site Poder 360 mostra que Bonner e Renata falaram durante 15:23 minutos do encontro, enquanto Bolsonaro usou a palavra por 24:37 minutos - a proporção é de 37% para os entrevistadores e 63% para o entrevistado.

Em 2018, levantamento que fiz no UOL apontou um resultado semelhante. Das cinco entrevistas com candidatos à Presidência feitas pelo Jornal Nacional, em quatro delas os apresentadores ocuparam cerca de 40% do tempo total.

Em 2018, o tempo total das entrevistas foi de 27 minutos, o que resultou em cerca de 16 minutos para os candidatos. Por este motivo, talvez, o JN tenha decidido ampliar o tempo, em 2022, para 40 minutos.

Como escrevi ontem, sobre a entrevista com Bolsonaro, a equipe do JN poderia ter tentado confrontar Bolsonaro com algumas perguntas mais simples e objetivas. As perguntas longas deram muitas oportunidades para o presidente tergiversar, mentir e fugir dos temas principais.

A série de entrevistas

Em 2002, pela primeira vez, o Jornal Nacional (JN) promoveu entrevistas com os principais candidatos à Presidência na bancada do telejornal. Na estreia da série, as entrevistas tiveram 10 minutos de duração. O tempo foi ampliado para 12 minutos em 2010 e para 15 minutos em 2014. Em 2018, planejou-se que o tempo seria de 25 minutos, mas após primeira entrevista, com Ciro Gomes, foi ampliado para 27.

Em 2006 e em 2014, quando Lula e Dilma, respectivamente, eram candidatos à reeleição, os apresentadores do JN se deslocaram a Brasília para entrevistá-los. A Globo decidiu não mais fazer isso e condicionou a entrevista de Bolsonaro, em 2022, à presença dele no estúdio, no Rio. Após uma hesitação inicial, o presidente se dobrou à exigência da emissora.

Outras duas novidades marcam esta nova rodada de entrevistas do JN. Primeiro, a duração dos encontros foi novamente ampliada, agora para 40 minutos. É um tempo realmente considerável. Segundo, a emissora transferiu as entrevistas para os Estúdios Globo, em Curicica, mas manteve a base do telejornal no Jardim Botânico. Ou seja, o JN abriu com Ana Paula Araujo e Helter Duarte no estúdio tradicional, cabendo a eles convocar Bonner e Renata no outro local, reforçando a impressão de que a entrevista é um quadro isolado do resto do telejornal.