Policiais da 'Abin paralela' foram seguranças da campanha de Bolsonaro
Alguns dos policiais federais que integraram a "Abin paralela", grupo investigado pela Polícia Federal (PF) pela suspeita de executar ações de inteligência clandestinas durante o governo Jair Bolsonaro, foram seguranças de sua campanha em 2018.
A Polícia Federal fornece uma equipe de agentes que atuam como seguranças durante campanhas presidenciais. Ramagem foi coordenador de segurança de Bolsonaro. Na época, ele e sua equipe se aproximaram do candidato e de seus filhos.
Entre os integrantes dessa equipe estavam Marcelo Araújo Bormevet e Luiz Felipe Barros Félix, que estavam em Juiz de Fora (MG) quando Bolsonaro levou uma facada, e Felipe Arlotta Freitas, nomes selecionados por Alexandre Ramagem.
No Réveillon de 2018 para 2019, antes da posse presidencial, Barros Félix, Arlotta Freitas e Ramagem passaram a virada de ano com Carlos Bolsonaro, filho de Bolsonaro, como mostra uma foto publicada pelo vereador do Rio de Janeiro.
Em 2019, no primeiro ano de governo Bolsonaro, quando foi nomeado diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Ramagem levou consigo os policiais federais que tinham trabalhado com ele na segurança da campanha.
Durante a gestão de Ramagem na Abin, esses policiais trabalharam — alguns deles informalmente — no Centro de Inteligência Nacional (CIN), onde formaram um grupo encarregado de missões que envolviam monitorar e criar dossiês contra adversários do governo Jair Bolsonaro, segundo investigação da Polícia Federal.
Na semana passada, Arlotta Freitas, Bormevet e Barros Félix foram afastados de suas funções na PF, onde seguiam trabalhando depois de sair da Abin, assim como outros quatro integrantes da corporação que integraram a equipe de Ramagem.
A investigação da PF aponta que Carlos Bolsonaro intermediava as comunicações entre a "Abin paralela" e o Palácio do Planalto, direcionando o trabalho desses integrantes da agência para missões de interesse do então presidente.
Em 2021, Barros Félix, um dos que comemoraram a passagem de ano com Carlos Bolsonaro, foi encarregado de uma missão de espionar o entorno de Jair Renan Bolsonaro, com o intuito de obter provas favoráveis ao filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, já que havia uma investigação em andamento sobre ele.
A tentativa de interferência na investigação sobre Jair Renan acabou sendo descoberta pela Polícia Federal. Em um depoimento à PF sobre esse caso, a que o UOL teve acesso, Barros Félix detalhou como funcionava a "Abin paralela".
O agente disse que a ação foi ordenada por Felipe Arlotta Freitas, que era "coordenador central de diversos setores, inclusive o setor de inteligência". "O setor de operações da Abin determinou a diligência. (...) Quem determinou a diligência foi o senhor Felipe Arlotta, policial federal cedido à Abin", afirmou.
No fim de 2022, a Abin confirmou que o caso Jair Renan ocorreu fora dos trâmites da agência, dizendo que "a delegação de missões, ordens ou afins na instituição segue procedimentos formais estabelecidos pela Doutrina de Inteligência, que ficam registrados nos sistemas da instituição, o que não é o caso da ação em tela".
Na investigação em andamento agora, a PF identificou que uma assessora de Carlos Bolsonaro pediu ajuda de Ramagem para obter informações sobre investigações em andamento sobre Bolsonaro e seus filhos. Com base nisso, foi autorizada uma busca e apreensão na residência do vereador nesta segunda-feira (29).
Nesta terça-feira (30), Carlos Bolsonaro depôs à Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele tem negado envolvimento com atos de espionagem e com as atividades da Abin.
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