Raquel Landim

Raquel Landim

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Em 48h, governo vai de liberar bancada a orientar voto contra PL do aborto

Em dois dias, o governo Lula deu uma guinada em seu posicionamento sobre o projeto de lei sobre o aborto, pressionado, principalmente, pela reação das mulheres nas redes sociais e nas ruas. O PL equipara o aborto após 22 semanas de gestação ao homicídio.

Na quarta-feira, o líder do governo na Câmara, José Guimarães, havia liberado o voto da bancada, com o argumento de que a prioridade eram as pautas econômicas e de que temas de costumes são derrota certa.

O PT, partido do presidente Lula, se posicionou contra, mas concordou com um acordo de lideranças que permitiu a aprovação da urgência do PL de maneira simbólica em poucos segundos.
Na quinta-feira, Lula desconversou sobre o assunto em viagem ao exterior. Disse que não era justo ser questionado sobre o tema quando estava fora. Mas a pressão começou a aumentar.

A resistência cresceu nas redes sociais, com as menções negativas superando com folga as menções positivas ao PL. Referências ao estupro de meninas, que por vezes não conseguem fazer o aborto antes das 22 semanas de gestação, ganharam a opinião pública. Artistas, influenciadoras e jornalistas se posicionaram no debate.

Cobrada, a primeira-dama Janja da Silva escreveu apenas nesta sexta-feira pela manhã contra o PL nas redes sociais, aderindo à campanha de que "criança não é mãe". Embora Lula ainda não tenha se posicionado publicamente, o post de Janja deu a senha para o governo virar a chave.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, enviou então posicionamento à imprensa de que era contra "o PL da bancada do estupro". A estratégia é jogar a responsabilidade para quem propôs o projeto: a bancada evangélica e parlamentares bolsonaristas, sem dar atenção para a omissão do governo até ali.

Mais tarde, Alexandre Padilha, ministro das Relações, afirmou publicamente que "não contem com o governo para mudar a lei do aborto". Afinal, o PL pune quem tem direito ao aborto legal - mulheres estupradas, que carregam fetos inviáveis ou correm risco de vida.

Fontes no Palácio do Planalto classificam a mudança de postura como "amadurecimento" da discussão. Segundo apurou a coluna, o governo conta com o presidente da Câmara, Arthur Lira, para postergar a votação do projeto, conforme sinalização que ele teria dado ao colégio de líderes. Lira nega essa promessa, porque tem um compromisso com a bancada evangélica. Mas tenta um acordo indicando uma "relatora moderada" e a mais cotada é a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), evangélica e petista.

Se Lira colocar para votar, Padilha deixou claro que vai orientar voto contra - uma guinada em relação a liberar a bancada, posição tomada na quarta-feira. E uma guinada que só ocorreu por causa da reação popular, e que não veio das bandeiras históricas do governo.

Continua após a publicidade

Caso tudo isso falhar e o tema passar na Câmara, a esperança é que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, coloque um freio no debate e esqueça de vez o assunto nos escaninhos. Lula, assim, ficaria devendo mais um favor a Pacheco, já que não adianta vetar depois de aprovado, porque o Congresso derruba o veto,

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes