Raquel Landim

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Opinião

Trump volta a derrotar uma mulher. Por que elas não chegam à Casa Branca?

Donald Trump voltou à presidência dos Estados Unidos com uma vitória esmagadora.

Ele já levou quatro dos sete "swing states" (Georgia, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin), venceu no Colégio Eleitoral e no voto popular. Os republicanos conquistaram o Senado e estão perto de ter maioria na Câmara.

Um triunfo político desse tamanho tem mais de uma explicação e é bem provável que a economia seja o ponto central, dada a inflação que corrói o poder de compra e não deixa que a população perceba a melhora de outros indicadores. Porém, o machismo também faz parte dessa história.

É a segunda vez que Trump chega à Casa Branca e a segunda vez que derrota uma mulher que tenta quebrar a maior barreira de gênero dos Estados Unidos: tornar-se "comandante-chefe" da nação mais poderosa do mundo.

Em 2016, o homem branco, que utiliza a misoginia como plataforma de campanha, venceu Hillary Clinton. Agora derrotou Kamala Harris. Quando o adversário foi Joe Biden — outro homem branco e de meia idade — Trump perdeu. Coincidência?

Até agora, a barreira de gênero é mais poderosa até que a de raça para chegar ao cargo máximo da política, já que os Estados Unidos tiveram uma presidente negro, Barack Obama.

Na eleição deste ano, os homens votaram massivamente em Trump, 54% a 44%, enquanto as mulheres votaram em Kamala — os mesmos 54% a 44%.

A questão é que homens tradicionalmente democratas abandonaram a candidata democrata.

Kamala manteve a liderança entre os eleitores latinos — 53% a 45%. O apoio a Trump, no entanto, cresceu dez pontos em relação ao pleito de 2020 nesse grupo. Entre os homens latinos, o candidato republicano teve 18 pontos a mais.

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Os homens não confiaram que uma mulher poderia baixar a inflação, elevar o emprego, reduzir a criminalidade, cuidar das fronteiras. Apenas imigrantes nacionalizados votam, e eles não querem ilegais entrando no país.

Outras questões também transformaram essa eleição numa espécie de referendo sobre os direitos das mulheres e, por isso, a derrota é ainda mais dolorida. Alguns estrategistas dizem até que a campanha de Kamala errou em insistir na bandeira de atrair o voto feminino e fazer disso uma estratégia.

Trump tem um histórico de supostos abusos sexuais e de falas que objetificam as mulheres.

Em maio, foi condenado por 34 crimes ao encobrir pagamentos para uma estrela de filme pornô com dinheiro da campanha para mentir sobre um relacionamento com ele. Esta é a primeira vez que os Estados Unidos elegem um condenado como presidente.

Foi também Trump quem indicou para a Suprema Corte os três juízes que reverteram o direito ao aborto a nível federal — a maior derrota em direitos reprodutivos da história do país.

Agora o aborto se tornou atribuição dos estados. Também ontem, a Flórida rejeitou um referendo para ampliar o direito ao aborto para além de seis semanas — o primeiro estado a fazer isso depois da decisão judicial.

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Ao votar perto de sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, Trump se recusou a revelar seu voto sobre o referendo do aborto e disse que a imprensa deveria parar de falar disso.

Serão quatro anos muito difíceis para a luta das mulheres. Perdemos todas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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