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Rogério Gentile

Embaixada contradiz deputado e nega ter recebido dossiê antifascista

O deputado estadual Douglas Garcia (PTB-SP) - Carine Wallauer/UOL
O deputado estadual Douglas Garcia (PTB-SP) Imagem: Carine Wallauer/UOL

Colunista do UOL

17/08/2020 16h08

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A Embaixada dos Estados Unidos afirmou à coluna não ter registro de recebimento de documento listando nomes de supostos antifascistas.

A afirmação, encaminhada à coluna pela assessoria de imprensa da embaixada, contraria declaração formal feita à Justiça paulista pelo deputado estadual Douglas Garcia (PTB-SP). Em petição enviada no dia 5 de agosto à 45ª Vara Cível da Capital, o parlamentar afirmou que o documento havia sido entregue à embaixada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro.

"O protocolo junto à Embaixada dos Estados Unidos foi feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro", afirmou Garcia.

Em vídeo publicado em suas redes sociais no dia 10 de agosto, Garcia confirmou que Eduardo entregou o documento à embaixada, dizendo ter sido uma "ação conjunta".

"No caso da Embaixada dos EUA, para que eles tenham ciência do tipo de gente que tenta entrar lá", afirmou.

Em seguida, Eduardo Bolsonaro, comentando o post de Garcia, afirmou: "Meu total apoio aos deputados estaduais Douglas Garcia e Carteiro Reaça (Gil Diniz)". O deputado federal foi procurado pela reportagem do UOL, mas não se manifestou.

Garcia não apresenta provas de que antifascistas sejam ameaça, diz juiz

Garcia afirma que as pessoas listadas no dossiê são "terroristas". O juiz Guilherme Ferreira da Cruz, da 45ª Vara Cível Central da Capital, que o condenou a indenizar uma mulher citada no dossiê, disse que o parlamentar não apresentou prova alguma de que as pessoas relacionadas no dossiê são violentas, criminosas ou terroristas.

"A elaboração de dossiês não se relaciona com o exercício normal e regular do mandato legislativo, cujo titular deve se mostrar à sociedade prudente e equilibrado", afirmou o juiz, que o condenou a pagar uma indenização de R$ 20 mil.

O dossiê tem o nome de cerca de 1.000 pessoas, com fotos, endereços e telefones. Há na listagem dois jornalistas, seis radialistas e pelo menos 70 professores.

Entre as "provas" de ligação das pessoas citadas pelo parlamentar com terrorismo estão um livro (a biografia do guerrilheiro comunista Carlos Marighella, escrita pelo jornalista Mário Magalhães), uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em 2018, camisetas com a imagem do ex-presidente Lula e a suástica nazista, com um "X" vermelho demonstrando rejeição.

Garcia não responde ao UOL

O fascismo foi um sistema político totalitário, ultranacionalista, caracterizado pela concentração do poder nas mãos de um único líder, pelo uso da violência e pelo controle dos meios de comunicação de massa.

Benito Mussolini, da Itália, é o fascista mais conhecido. Seu regime foi derrubado pelas forças aliadas na 2ª Guerra Mundial, quando a Itália apoiou a Alemanha de Adolf Hitler.

O deputado negou à Justiça que tivesse participado da elaboração e da divulgação do dossiê, mas admitiu que o encaminhou para autoridades. Ele pretende recorrer da decisão que o condenou a indenizar uma mulher cujo nome é relacionado no dossiê.

Procurado pela coluna, Garcia não respondeu.