Rogério Gentile

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Ativista é condenado por ofender repórter da Globo que chorou em tragédia

A Justiça paulista condenou em primeira instância o ativista Antonio Isupério Pereira Junior a pagar uma indenização de R$ 5 mil ao jornalista Walace Lara, da Rede Globo. À decisão cabe recurso.

No Carnaval do ano passado, Lara participou da cobertura da tragédia provocada pelas chuvas no litoral norte de São Paulo. Em São Sebastião, cidade mais atingida, 64 pessoas morreram.

Em meio à comoção, Lara chorou ao vivo ao comentar que comerciantes estariam cobrando R$ 93 por um litro de água.

"É difícil ouvir o depoimento que a gente ouviu agora e não se emocionar. Cobrar R$ 93 em um litro de água na situação que nós estamos aqui é inacreditável", disse na ocasião.

Após a cena viralizar na internet, o arquiteto Pereira Júnior, ativista do movimento negro e LGBT+, atacou o repórter nas redes sociais.
Entendendo que Lara havia feito referência a uma determinada comerciante negra, o ativista o acusou de espalhar fake news e o chamou de "racista".

"Vergonha mundial. Ninguém checou os fatos", escreveu o ativista, que citou "a branquitude das pautas".

Lara, que atua na Globo desde 1996, processou o ativista dizendo ter sido ofendido.

"Acusar um jornalista, com quase trinta anos de serviços prestados, de veicular notícias falsas é altamente grave e ofensivo. Mais grave ainda é chamá-lo de racista", afirmaram à Justiça os advogados Arthur Rollo e Rafael Freire, que o representam.

Eles ressaltaram que, durante o programa, nenhum nome de comerciante havia sido citado, e que o Procon constatou a ocorrência de aumentos injustificados no preço dos produtos durante a tragédia.

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O ativista, que mora nos Estados Unidos, se defendeu no processo dizendo que o post não se referia a Lara, mas "sobre as consequências que advieram à comerciante atingida pela notícia veiculada na TV".

Afirmou também que o programa jornalístico "não teve a cautela de efetuar a necessária comprovação da veracidade da notícia" ao divulgar o relato da moradora. "Não conferiu fontes, não foi aos locais de venda apurar o que de fato se passava, não deu detalhes sobre as condições em que esse suposto abuso teria ocorrido."

De acordo com o ativista, a emissora tinha o dever profissional de verificar a autenticidade dos relatos antes de os divulgar. "A notícia saiu conforme os relatos de moradores. Contudo, apurou-se mais tarde, era falsa", declarou.

Ele disse também que, em nenhum momento, acusou o jornalista de racismo.

O juiz Jomar Amorim, ao condenar o ativista, ressaltou que ele usou a imagem de Lara sob o título "fake news" e que, em um segundo post, "reiterou haver um aspecto racista no episódio".

Disse que ele ofendeu deliberadamente a honra do jornalista, "relacionando arbitrariamente sua conduta a uma 'branquitude de pautas' e a um inexistente racismo".

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O ativista ainda pode recorrer. Lara, que havia pedido uma indenização de R$ 80 mil, também.

O valor de R$ 5 mil definido pelo juiz ainda será acrescido de juros e correção monetária.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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