Semana começa embaralhada na guerra entre Israel e Hamas
Como tenho repetido, o Direito das Gentes, também chamado de Direito Internacional, é baseado no consenso entre os Estados nacionais.
Só que os Estados nacionais, incluídas as teocracias, são movidos prevalentemente por interesses econômicos, expansionistas. Nunca se perde de vista num conflito o quadro geoeconômico. E o direito internacional vale apenas quando se acusa o outro de sair da linha.
Geoeconomia e direito
Pelo quadro atual, talvez interesses econômicos possam fazer o conflito Hamas x Israel dar uma guinada.
Existe muita preocupação com o alargamento do mencionado conflito. Fala-se no ingresso de cabeça do Hezbollah e em Israel ecoar a ameaça de o Líbano ser arrasado, caso o Hezbollah entre no conflito.
Pelo Direito das Gentes, agressões ou respostas excessivas, imoderadas, não são legítimas se alcançarem civis inocentes. Não só o Hezbollah habita no território do Estado nacional libanês.
O Irã, como se percebe, quer sempre usar, em conflitos, a mão do gato. E os aiatolás manobram o sunita Hamas no interesse de influenciar e dominar o Oriente Médio, a fingir esquecer da inconciliável divergência religiosa com os sunitas.
O Qatar, monarquia constitucional de economia crescente na base do petróleo e do gás natural, financiador da faixa de Gaza, trabalha para a liberação dos reféns. Com a pressão do presidente Joe Biden, tenta junto ao Hamas a liberação de reféns norte-americanos, com dupla nacionalidade. À boca pequena corre estar o Hamas, por pressão do Qatar, disposto, nas próximas horas, a liberar 25% dos reféns.
Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e chefe de governo da Arábia Saudita, aposta todas as fichas para tirar a economia do seu país da dependência da exportação do petróleo. E o conflito Hamas x Israel está a atrapalhar, com fuga de investidores.
Toda vez que se fala em conflitos a envolver o mundo árabe, o referido príncipe-premiê saudita treme diante da possibilidade de fechamento do estreito de Ormuz, por onde passa 1\5 do volume do total do consumo, diário e mundial, do petróleo. E tem a Davos árabe que não combina e mingua em face de conflitos internacionais.
O plano saudita de desenvolvimento, conhecido por "Vision", foi o caminho escolhido para a economia saudita, no futuro, não ficar apenas atrelada ao petróleo. E o mencionado conflito Hamas x Israel colocou o príncipe-premiê saudita, nos campos da geopolítica e da geoeconomia, grudado ao Direito Internacional. Por isso, condenou o Hamas pelo terrorismo e Israel pelos ataques à população civil de Gaza.
Mas tem mais. O saudita, príncipe e premiê, está mais sujo do que pau de galinheiro no campo dos direitos humanos internacionais. Ele tenta, diante do conflito Hamas x Israel, limpar a imagem de mandante do assassinato e do esquartejamento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, em operação realizada em Istambul (Turquia).
Com o conflito em curso, o príncipe-premiê passou a ter grande dificuldade em se equilibrar no fio de navalha por onde caminha. Bin Salman abriu os braços para China e Rússia, mas apenas suspendeu o acordo de Abraão com Israel. E não tira as esperanças de Joe Biden, que precisa dele como trunfo eleitoral.
No início do conflito Hamas x Israel, o manda-chuva saudita manteve inesperado diálogo telefônico com o inimigo. Ou melhor, ligou ao presidente iraniano Ebrahin Raisi a pedido da China. Na conversa com a teocracia iraniana xiita que mantém cumplicidade com o Hamas, que é sunita, Salman falou da sua preocupação com o povo palestino e a reação de Israel.
As fanfarronices de Netanhyahu
O presidente americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, reafirmam "aconselhar" (é o termo usado por ambos) Israel a não promover a invasão por terra da faixa de Gaza.
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OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberNetanyahu, no entanto, continua o discurso eleitoreiro, infeliz em tempo de conflito, de acabar com a existência do Hamas.
A invasão por terra seria um massacre à luz do Direito Internacional e, como já colocado em colunas anteriores, o Hamas está na Gaza subterrânea, de túneis sem fim. Com o ataque por terra, aí sim, novos atores certamente ingressarão no conflito.
Netanyahu e o ministro da defesa de Israel alegam que o recuo do plano de invasão por terra poderá representar, aos inimigos de Israel, indicativo de fraqueza e isto seria desmoralizante.
Enquanto não há definição sobre o plano de invasão de Gaza por terra, vira fanfarronice internacional o discurso de Netanyahu, que no particular teve o aval de Biden, de o Hamas ser o novo Isis (como o Estado Islâmico também é conhecido).
A lembrar que o Isis nunca se aliou a nenhum Estado nacional ou aos seus serviços de inteligência. Manteve-se como organização terrorista única. Dizia manter a pureza, sem vínculos a macular os seus princípios.
O Hamas, diferentemente do Isis, tem aliados e sustentação econômica. Recebe apoio do Irã e se beneficia da ajuda financeira do Qatar.
Sabe-se, ainda, ter Netanyahu ajudado - com malas de dinheiro entregue a certo embaixador do Qatar- o Hamas para enfraquecer o Fatah: a meta de Netanyahu era retardar a criação do Estado Palestino e aumentar os assentamentos de colonos na Cisjordânia, numa estratégia de fato consumado em futura fixação de divisas.
O próprio Isis, que ainda se apresenta como vivo e em face de renascimento, soltou aviso a aconselhar o Hamas e o Irã.
No referido aviso desaconselha o Hamas a manter vínculo com os xiitas, no caso o Irã. Avisa que Israel só será vencido com o corte dos vínculos com a elite econômica internacional.
Num pano rápido, a semana começa embaralhada, com moderação do Egito, Arábia Saudita, Qatar e vacilação israelense com relação ao ataque por terra, fácil de entrar e difícil de sair com vitória e sem acusações de mais crimes contra a humanidade.
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