Wálter Maierovitch

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Opinião

Fora de controle, Netanyahu prepara a última cartada; Biden reage

Como comentaram os analistas políticos americanos, o presidente Joe Biden, 81, aproveitou o seu discurso em solene cerimônia do Congresso dos EUA, para tentar apagar a imagem eleitoral de velho alquebrado, sem condições de enfrentar um novo mandato presidencial.

No tradicional e obrigatório discurso do Estado da União, Biden demonstrou vigor juvenil.

Como se estivesse num ringue de boxe, partiu ao ataque verbal contra Donald Trump, a quem evitou nominar, recordando as condutas antidemocráticas e o quanto o adversário atrapalha, pelos seus aliados, as ações do governo.

Para os 007 dos serviços de inteligência ocidentais, Biden foi bem na retórica e esbanjou energia, mas, terá de demonstrar robustez e tenacidade contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Netanyahu está fora do controle norte-americano, seu fundamental aliado. Segundo os 007, nem camisa de força e enforcador juntos vão impedir a invasão da cidade de Rafah, em Gaza e na fronteira com o Egito.

Rafah é o último bastião do Hamas, disse Netanyahu, em peroração nesta semana aos cadetes israelenses promovidos a oficiais militares. Mais ainda, alertou que as pressões internacionais não vão demovê-lo da invasão.

Não atacar Rafah, na visão de Netanyahu, seria não exterminar o Hamas. Lógico, as pressões internacionais provêm de Biden.

A invasão de Rafah, com acampamentos de refugiados das guerras anteriores no Oriente Médio e migrantes que deixaram o norte e o centro de Gaza a conselho de Netanyahu, será um massacre, ou melhor, uma tragédia humana anunciada.

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Atenção: pesquisas eleitorais nos EUA mostram a não disposição de jovens em votar em Biden por causa do apoio a Israel, com mortes e desumanidades a ponto de impedir o ingresso, via Egito e Rafah, de ajuda humanitária.

Com efeito, Biden pode imaginar o estrago eleitoral, na hipótese de invasão e massacre em Rafah.

A única concessão de Netanyahu, pelo que dizem, seria a fixação de um prazo curto para civis deixarem a cidade Uma movimentação avaliada, por baixo, em 1,5 milhão de retirantes.

Balanço de Netanyahu

O Hamas teria iniciado o ataque terrorista de 7 de outubro contando com cerca de 30 mil homens — que formariam 5 brigadas, com 24 batalhões.

Nas anotações dos 007, incluídos os da CIA: 5 brigadas, 24 batalhões e 120 companhias.

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Até agora, pelos cálculos do gabinete de guerra e do Exército de Israel, o Hamas estaria reduzido a quatro batalhões.

Atenção, de novo: conforme entrevista dada por Ophir Falk, advogado de profissão e biógrafo de Netanyahu, os quatro batalhões estariam com todos os seus soldados espalhados em Rafah.

Especialistas em geoestratégia e guerras militares avaliam, quanto ao tempo de conflito, em mais dois anos de duração. E mais de oito anos para Israel controlar com segurança, isto é, sem Hamas, toda a faixa geográfica de Gaza.

Tática de Kissinger

A teimosia bélica e sanguinária de Netanyahu, com Biden a perder eleitores nos EUA, levou a uma nova estratégia por parte do presidente americano.

Biden não quer ficar contaminado pela imagem desumana de Netanyahu. Então, uma saída foi anunciar a construção de píer na costa marítima de Gaza.

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Essa espécie de porto naval, protegido pelas frotas americanas, está sendo visto como um ancoradouro para salvar a imagem eleitoral de Biden.

Pelo píer, uma obra simples e de construção fácil consoante sustentam os engenheiros navais americanos, chegariam os auxílios humanitários. E seria aberto um vale protegido para a distribuição de alimentos, medicamentos, etc.

Por outro lado, os assessores militares de Biden já o relembraram da tática usada por Henry Kissinger, secretário de Estados dos EUA no governo Gerald Ford (1974-77). Deu certo.

À época, Israel deixou o Sinai ocupado depois de os EUA avisarem que não mais enviaram armas e munições.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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