Papa Francisco soa pró-Putin e provoca outra polêmica num mundo polarizado
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O papa Francisco, no registro civil argentino Jorge Mario Bergoglio, tem com frequência realizado pronunciamentos geradores de polêmicas.
Na presente fase civilizatória não pega mais a lorota da infalibilidade do papa, que já foi dogma da Igreja e hoje reduziu-se às questões referentes à fé, em alocuções "ex cathedra".
Desta vez, a polêmica levantada por Bergoglio decorre de uma mistura de pronunciamento de natureza espiritual com político.
Bergoglio, sobre a guerra na Ucrânia, falou em "coragem em erguer a bandeira branca e de negociar a paz". Direita e esquerda gostaram do "erguer a bandeira branca", que representa a paz.
A divergência derivou da expressão "coragem de negociar". Decorreu do fato de se tratar de invasão pela Rússia, com violação da soberania da Ucrânia, em desconformidade com a carta constitutiva das Nações Unidas, ou melhor, a Constituição de ONU.
O pronunciamento acontece num momento em que a Ucrânia, sem recursos e dificuldades de alistar os seus nacionais, está perdendo a guerra. A região do Donbass foi conquistada pelos invasores russos e o Exército da Ucrânia está em dificuldade em recuperá-la.
Papa e chefe de Estado
A polêmica não nasceu num domingo na recitação do "Angelus" nem quando da bênção "Urbi et Orbi" (da cidade de Roma para o mundo). Tratou-se de polêmica decorrente de entrevista de Bergoglio à televisão suíça, conduzida pelo jornalista Lorenzo Bucella, marcada para ir ao ar no próximo dia 20 e que teve partes divulgadas.
O papa Francisco dirige a Igreja Católica Apostólica Romana. De quebra, é o bispo de Roma, com bispado sediado na basílica de San Giovanni in Laterano.
Fora o lado religioso-espiritual, Bergoglio governa o Estado do Vaticano, uma monarquia absoluta incrustada na Itália, às margens do rio Tevere.
Aquilo que mais distinguiu o jesuíta Bergoglio dos seus mais recentes antecessores foi o humanismo. A lembrar ser Bergoglio homem erudito e culto, deixada comparações de lado. Também é coerente, com visível disciplina jesuítica. A propósito, os jesuítas são considerados "os intelectuais da Igreja".
Quando o papa Francisco se manifesta, quer como religioso (papa), quer como político (chefe de Estado), há necessidade de separação dos temas tratados. Na entrevista, a separação é necessária.
Bergoglio da paz
O papa se veste de branco, a cor simbolizadora da paz. Como se sabe, Jesus, o Cristo para os católicos, recebia as pessoas desejando-lhes a paz. A paz entre os povos é uma tarefa apostólica.
Com efeito, andou bem Bergoglio no particular, pois agiu dentro da sua tarefa de natureza moral e espiritual.
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Quero receberNa história da Igreja, nem sempre foi assim e basta recordar dos tempos da Inquisição e dos exércitos conquistadores do papado e garantidores dos chamados Estados pertencentes à Igreja: Estados Pontifícios.
Bergoglio, na sua primeira aparição como papa, esteve na ilha mediterrânea de Lampedusa e orou pela paz e pelos imigrantes que naufragavam e morriam ao fugir das guerras, da fome e das doenças.
![Papa Franscisco acena a fieia ao chegar à ilha de Lampedusa, porta de entrada de imigrantes que chegam à Europa Papa Franscisco acena a fieia ao chegar à ilha de Lampedusa, porta de entrada de imigrantes que chegam à Europa](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/c9/2024/03/13/papa-franscisco-acena-a-fieia-ao-chegar-a-ilha-de-lampedusa-porta-de-entrada-de-imigrantes-que-chegam-a-europa-1710356961482_v2_750x421.jpg)
Lutar e orar pela paz faz parte do pontificado de Bergoglio, que mostra coerência. Aqui, cabe uma comparação com o papa João Paulo 2º que empenhou-se na guerra ao comunismo, na parede polonesa no porto de Gdansk e a jogar de mão com o então sindicalista Lech Walesa.
A respeito da atuação belicosa de Karol Józef Wojty?a, importante lembrar, quando feitas comparações com Bergoglio, a sua manifestação por ocasião da denominada Guerra do Golfo: "Não sou pacifista. Isto no sentido de não querer a paz a qualquer custo. Quero a paz justa".
Bergoglio político
A invocação à negociação de acordo, Bergoglio entrou para o campo da geopolítica e da geoestratégia. Pelo momento de dificuldades de Zelensky, com eleição presidencial próxima e com pesquisas a indicar renovação, Bergoglio, penso que sem intenção, fez o discurso ao agrado a Putin.
Agrado porque Bergoglio não cogitou a retirada das tropas russas nem a devolução da região de Donbass. Para piorar, ao se referir à mediação internacional cogitada, mencionou o oferecimento da Turquia, do autocrata Recept Erdogan.
Disse o papa Francisco: "Hoje se pode negociar com o auxílio de colaboradores internacionais. A palavra negociar é corajosa. Quando se percebe que se está derrotado, que as coisas não andam bem, há necessidade de negociar: quantas mortes teremos quando isso terminar? [...] A negociação não é nunca uma rendição, mas, sim, coragem. Coragem para não levar o país ao suicídio".
Politicamente, Bergoglio, como papa, é um líder internacional nato. Esse seu pronunciamento, no entanto, desqualifica uma futura medição do Vaticano, pela sua diplomacia.
Não se mostrou Bergoglio um trapalhão como o presidente Lula, que tem se conduzido mal nas questões internacionais ao tomar partido contra o Ocidente e se mostrar condescendente com ditaduras desrespeitosas à democracia e aos direitos humanos.
Por evidente, Bergoglio não se mostrou um cretino absoluto como Bolsonaro na sua Presidência e em questões de relações exteriores. Mas, o Vaticano se desqualificou como mediador, Nessa quadra de fragilidade da Ucrânia, a entrevista de Bergoglio soou pró Putin. Em Kiev, ninguém deve ter gostado.
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