Bolsonaristas distorcem frase de Barroso sobre eleições em Roraima
Posts publicados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais desde a noite de ontem (10) distorcem o significado de uma frase sobre eleições dita pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, buscando associar a declaração à derrota do voto impresso na Câmara dos Deputados.
As publicações contêm um vídeo em que Barroso fala: "Eu brinquei com ele que eleições em Roraima não se ganha, se toma." O registro está em uma transmissão ao vivo no YouTube da TV Câmara feita em 9 de junho, dois meses antes da votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sobre o voto impresso.
Segundo apurou o Painel, da Folha, o gabinete de Barroso afirmou que o ministro fazia referência a uma frase sobre Roraima que havia ouvido de um senador do estado, Mecias de Jesus (Republicanos), e que o deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) — filho de Mecias e que aparece no vídeo conversando com Barroso — lembrou do episódio em ligação ao magistrado na noite de ontem.
Na noite de quarta (11), o próprio Mecias de Jesus explicou o contexto da frase, noticiou a Agência Senado. O senador relatou que, durante reunião com Barroso, disse ao ministro que por duas vezes ganhou eleições em seu estado, por pouquíssimos votos. Com a recontagem de votos, porém, o resultado mudou e ele acabou por ficar na suplência. Mecias disse que as eleições foram "tomadas" dele. Assim, o ministro teria dito que "eleição em Roraima não se ganha, se toma". O senador esclareceu que assim se passava no tempo do voto impresso e que, com a implantação do voto eletrônico, ele finalmente obteve a vaga.
"Em defesa da minha honra, dos deputados que estavam acompanhando a reunião e do ministro Barroso, fica aqui esse esclarecimento. Quem faz fake news não quer esclarecimento e não busca a verdade", declarou o parlamentar.
No vídeo completo, que não circula nos posts com a distorção, é possível ouvir uma pessoa dizendo pouco antes da frase de Barroso: "O deputado Jhonatan é filho do senador Mecias".
Apesar de a gravação ser autêntica, a referência a Roraima é omitida nos textos dos posts compartilhados por bolsonaristas, assim como o contexto em que a frase foi dita.
Por meio de uma consulta à plataforma de monitoramento Crowdtangle, o UOL Confere constatou que os posts com o vídeo começaram a ser compartilhados no Facebook por volta das 21h de ontem, já durante a sessão da Câmara sobre a PEC do voto impresso e minutos antes do início da votação da proposta.
A consulta também mostrou que diferentes cortes do vídeo receberam quase 400 mil visualizações e foram compartilhados 89 mil vezes apenas no Facebook. Também foram encontradas publicações com a mesma distorção no YouTube, Instagram e Twitter.
Ataques a Barroso
Barroso tem sido alvo frequente de ataques de Bolsonaro e aliados nos últimos meses, em paralelo à tramitação na Câmara do projeto de adoção do voto impresso. O presidente do TSE é contra a medida. Em junho, declarou que adotar o voto impresso significaria "voltar à época das fraudes, em que as pessoas comiam votos, as urnas desapareciam, apareciam votos novos".
Em várias ocasiões, o presidente defendeu o voto impresso se valendo de mentiras para alegar fraudes na votação por meio das urnas eletrônicas. Nunca houve registro de fraude nas eleições brasileiras desde que a urna eletrônica passou a ser usada.
O presidente promete apresentar provas de fraude nas urnas eletrônicas há mais de um ano. Bolsonaro tem insistido nas acusações infundadas em paralelo a um dos momentos mais delicados de seu mandato — a CPI da Covid avança desde abril, sua reprovação bateu recorde em julho e pesquisas de intenção de voto têm mostrado vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em live no fim de julho, Bolsonaro reciclou uma série de boatos já desmentidos sobre as urnas eletrônicas, como mostrou o UOL Confere. Após a transmissão, o TSE pediu ao STF que Bolsonaro fosse investigado pela disseminação de informações falsas, o que foi aceito pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre o tema.
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