Áudios não confirmam inocência de Bolsonaro em tentativa de golpe

Publicações compartilhadas nas redes sociais distorcem uma reportagem do Fantástico para sugerir que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é inocente no caso de tentativa de golpe.

A reportagem original tem 17 minutos, mas os posts mostram apenas dois trechos que, somados, totalizam 39 segundos. Assim, omitem supostas falas de um general sobre Bolsonaro, que teria considerado "qualquer ação" até 31 de dezembro de 2022.

O ex-presidente ainda não foi julgado. Na última quinta-feira (21), ele foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

O UOL Confere considera distorcido conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.

O que diz o post

A postagem desinformativa traz um trecho do programa Fantástico. Sobrepostas às imagens, foram colocadas as frases: "URGENTE!" e "FANTÁSTICO SOLTA ÁUDIOS QUE CONFIRMA A INOCÊNCIA DO BOLSONARO NO GOPI".

O trecho da reportagem usada no post desinformativo reproduz uma troca de mensagens. Inicialmente, o repórter diz: "O general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com alguns líderes desses grupos". Na sequência, a reportagem coloca um áudio de uma fala de Mário Fernandes: "Talvez seja isso que o alto comando, que a Defesa quer". Em resposta, um oficial do Exército não identificado diz: "O senhor me desculpa a expressão, mas quatro linhas da Constituição é o car***, quatro linhas da Constituição é o car***. Estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro. Por incompetência nossa".

O repórter volta a falar: "Em outra mensagem, Mario Fernandes reclama que Bolsonaro não assinou o decreto do golpe". E outro áudio é colocado: "Cara, po***! O presidente tem que decidir e assinar essa mer***." Logo após, o áudio de outro oficial do Exército é colocado: "Mas vai virar uma Venezuela pra virar o jogo. Democrata é o car***."

Durante a exibição do trecho, são mostradas imagens do general Mário Fernandes e de Bolsonaro, que já estavam na reportagem.

Continua após a publicidade

Por que é distorcido

Post tira de contexto trechos de uma reportagem de 17 minutos. Uma busca reversa de imagens no Google Lens (aqui) leva até a íntegra da reportagem do Fantástico, postada pelo g1 no YouTube (aqui e abaixo). Também é possível chegar até ela pela página do programa (aqui). O vídeo completo tem 17min51seg.

Trechos usados no post têm só 39 segundos. Na verdade, são utilizadas duas partes da reportagem: uma que inicia em 7min13seg e outra que começa em 10min16seg. O primeiro trecho traz o seguinte (aqui): (Repórter) "O general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com alguns líderes desses grupos" / (Mário Fernandes) "Talvez seja isso que o alto comando, que a Defesa quer" / (Oficial do Exército - não identificado) "O senhor me desculpa a expressão, mas quatro linhas da Constituição é o car***, quatro linhas da Constituição é o car***. Estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro. Por incompetência nossa". O segundo trecho (aqui) segue da seguinte forma: "(Mario Fernandes) "Cara, po***! O presidente tem que decidir e assinar essa mer***." / "(Oficial do Exército - não identificado) "Mas vai virar uma Venezuela pra virar o jogo. Democrata é o car***."

Post omite suposta conversa de general com Bolsonaro. Na matéria do Fantástico, o repórter Maurício Ferraz salienta que, "em outro áudio, o general Mário Fernandes disse que teve uma conversa com o então presidente Bolsonaro sobre a diplomação da chapa Lula-Alckmin no TSE". Na sequência, é veiculado um trecho do áudio do general: "Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição. Qualquer ação nossa pode acontecer até dia 31 de dezembro e tudo. Mas aí na hora eu disse: 'pô, presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades'." Na sequência, o repórter volta a falar e diz que não fica claro que ação seria essa.

PF diz que Bolsonaro planejou golpe. Nesta terça-feira (26), o ministro Alexandre de Moraes, do STF, tornou público o indiciamento da PF. Nela, a instituição afirma que Bolsonaro "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva" do plano de golpe de Estado em várias frentes. Também afirma que o ex-presidente tinha conhecimento do plano para assassinar Lula, Geraldo Alckmin e Moraes (leia aqui)

Continua após a publicidade

O ex-presidente ainda não foi julgado. Na última quinta-feira (21), Bolsonaro, Braga Netto (PL) e outras 35 pessoas foram indiciados sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa (aqui). Para ser considerado inocente ou culpado, o ex-presidente precisa ser primeiro denunciado e depois julgado (aqui e aqui), o que ainda não ocorreu.

Viralização. Um postagem que circula no Instagram já acumulava nesta terça-feira (26) um total de 941 mil visualizações. O post também contava com 80.879 curtidas, 5.252 comentários e mais de 22 mil compartilhamentos.

Esse conteúdo também foi checado por Estadão Verifica (aqui) e por Aos Fatos (aqui).

Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.

Siga também o canal do UOL Confere no WhatsApp. Lá você receberá diariamente as checagens feitas pela nossa equipe. Para começar a seguir, basta clicar aqui e ser redirecionado.

5 dicas para você não cair em fake news

Siga UOL Notícias no
UOL Confere

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.

Deixe seu comentário

Só para assinantes