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Celulares apreendidos na Rocinha podem ajudar em busca por Amarildo, diz procurador-geral

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

01/08/2013 17h07Atualizada em 01/08/2013 18h43

Dois celulares apreendidos na Operação Paz Armada, na Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, no dia 13 de julho, um dia antes do desaparecimento do pedreiro Amarildo Dias de Souza, 47, podem ajudar a solucionar o caso, segundo informou o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira, nesta quinta-feira (1º).

De acordo com ele, os aparelhos foram apreendidos na comunidade durante a operação e começaram a receber chamadas. Em conversas com os interlocutores, policiais teriam conseguido informações sobre o sumiço de Amarildo.

"Existe um inquérito na 15ª DP (Gávea) sobre o aparecimento de dois celulares, a partir dos quais comunicações se fizeram, e há notória ligação com o desaparecimento. São aparelhos de terceiros achados na rua e em duas localidades diferentes", informou Vieira, que não soube dizer quais seriam as informações dadas sobre o desaparecimento.

O procurador-geral disse ainda que, em reunião com dois filhos de Amarildo na tarde desta quinta-feira, ambos falaram sobre uma relação conflituosa que o pai teria com um policial militar da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade.

"Todos eles se referem à dificuldade de convivência no espaço. Isso é relatado por eles", afirmou, sem dar mais detalhes. Os filhos de Amarildo que estiveram presentes na reunião não quiseram dar declarações.

Divisão de Homicídio

A partir desta quinta, o caso de Amarildo será investigado pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil. Segundo Vieira, 15 dias após um desaparecimento não ter solução, o inquérito segue para a DH.

"PIOR DIA DA VIDA"

Segundo a sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda, a família teve o "pior dia da vida" na noite desta terça-feira (30), com a notícia de que o corpo encontrado por policiais militares em um valão na comunidade não era de Amarildo, mas, sim, de uma mulher

O delegado titular da Divisão, Rivaldo Barbosa, afirmou que ele não descarta nenhuma possibilidade do que possa ter acontecido.

"Recebi o relatório da 15ª DP mais cedo, mas ainda não li. Fizemos a primeira diligência na Rocinha hoje para entender a dinâmica dos fatos. Primeiro vamos entender a dinâmica, para poder desenvolver as linhas de investigação", disse Barbosa.

"Tenho ordens superiores para me dedicar como nunca me dedicaria a um fato. A Divisão de Homicídio pergunta: cadê o Amarildo? A gente quer saber e vai atrás", disse o delegado.

Pensão

O deputado estadual Geraldo Pudim (PR) esteve presente na reunião e afirmou que vai ingressar com uma ação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro na sexta-feira (2) com pedido de pensão e aluguel social para o Estado. Pudim afirma que Amarildo estava sob responsabilidade do Estado, uma vez  que ele havia sido levado para averiguação por policiais militares. 

Segundo o deputado, o valor da pensão será definido pela Justiça, mas deverá manter a mulher e os seis filhos, já que Amarildo era o provedor da família. Já o aluguel social servirá para que eles se estabeleçam em algum local, pois, de acordo com Pudim, a casa onde vivia família está em obras e a mulher e os filhos estão morando com parentes.

Reconstituição

O secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame, afirmou que a noite em que o pedreiro sumiu será reconstituída. "Não há que se descartar nada. Todas as hipóteses serão exauridas, e temos várias. As pessoas serão ouvidas e todo esse fato será reconstituído", disse Beltrame.

O secretário disse ainda que a DH vai investigar por que as câmeras da favela não registraram as circunstâncias do desaparecimento e também por que os GPS dos carros da PM não apontavam onde os policiais estavam naquela noite.

Protesto

Cerca de 50 pessoas se reúnem em um dos acessos à Rocinha, na noite desta quinta, para protestar contra a Polícia Militar e a política de segurança do governo estadual. Familiares de Amarildo e representantes de movimentos sociais e políticos também devem participar do ato, que fechará o túnel Dois Irmãos, de acordo com os organizadores. Na sequência, a passeata deve seguir em direção à residência de Sérgio Cabral, no Leblon, na zona sul, onde cerca de 50 pessoas estão acampadas desde a noite de domingo (28).